Os impactos que a construção das hidrelétricas no Rio Madeira não causará problemas somente ao Brasil. Regiões da Amazônia boliviana próximas à nascente do rio também sentirão as conseqüências das obras
Há pelo menos dois anos, organizações não-governamentais como o Fórum Boliviano de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Fobomade) vem denunciando a construção das hidrelétricas, argumentando que elas iriam afetar o norte da Bolívia e as comunidades que nela vivem. Seja com inundações ou com a propagação de doenças. O próprio presidente boliviano, Evo Morales, disse na época que, caso haja prova de que haverá impactos ambientais em seu país causados pelas barragens, pedirá compensação econômica.
Durante um seminário realizado no dia 3 de junho, organizações rurais e indígenas do país assinalaram a necessidade de "expor ao Brasil os impactos para reforçar nossa posição sobre os estudos integrais binacionais em toda a bacia hidrográfica antes de prosseguir com os empreendimentos. Além de discutir de maneira concreta as alternativas de readequação do projeto, mitigação e compensação de tais impactos [que as hidrelétricas causaram na Bolívia]".
Manuel Lima, ex-secretário executivo dos trabalhadores rurais de Pando, cidade que fica ao norte da Bolívia, disse aquilo que muitas organizações e ambientalistas brasileiros vem dizendo: as políticas de desenvolvimento econômico no Brasil estão destinadas a favorecer aos grandes interesses empresariais e transacionais. Essas políticas, segundo ele, violam os direitos dos povos indígenas mesmo depois de o Brasil ter se comprometido com as Nações Indígenas, em setembro do ano passado. "Além disso, o governo brasileiro aprova uma licença para a construção das represas, desrespeitando as leis ambientas sob a desculpa do desenvolvimento, sem atentar a outras alternativas energéticas", contou ele depois de participar de uma reunião de emergência, no último dia 30, convocada por trabalhadores do campo e indígenas preocupados com as ações relacionadas ao rio Madeira.
Os 171 representantes de organizações brasileiras e bolivianas que participaram desse encontro formalizaram em uma carta diversas denúncias sobre o tema. No documento, eles afirmam que no Fórum Amazônico, realizado em 18 e 19 de junho de 2007, as organizações não aceitaram o complexo do Rio Madeira já que as conclusões assinalam que: "É evidente que qualquer modificação de um curso de água da magnitude do rio Madeira produzirá altos impactos ambientais. O que é discutível em relação ao projeto não é somente a medida desses impactos, mas sim a ética da decisão de um país fazer assumir a outro um risco que este não procurou, que a este não traz benefício algum e com o qual não está de acordo".
Na carta, as organizações recordam ao presidente boliviano que "não é um mandato de nossas organizações que se negociou em nosso nome compensações e indenizações com o governo do Brasil". Ela também incica que as três comunidades indígenas e de trabalhadores rurais: "rejeitamos profundamente os projetos de construção das represas do Rio Madeira, que mexem com os interesses de desenvolvimento regional, direitos, saúde integral, bem-estar e famílias. Além disso, de atrapalhar nossas atividades agrícolas, de pesca e extrativistas, em suma, afetando a soberania e a segurança alimentar de nossas regiões".
Talk ShowHoje (4), internautas poderão tirar suas dúvidas sobre a polêmica construção de hidrelétricas na Amazônia, durante o Talk Show "Perguntas sem resposta sobre o Complexo do Madeira". O programa, transmitido ao vivo pelo IG (ww.igpapo.com.br), às 18 horas, será um bate-papo com jornalistas e especialistas a partir do caso das hidrelétricas do rio Madeira, Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e vai interagir com o público pelo chat do portal. No evento haverá também o lançamento nacional do livro "Águas Turvas: alertas sobre as conseqüências de barrar o maior afluente do Amazonas", organizado pela ONG International Rivers.
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Amazonia.org.br, 03/07/2008)