(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
eucalipto no pampa celulose e papel
2008-07-03

Pecuária tradicional, e mais sustentável, perde espaço para plantações que vão abastecer a indústria de papel; 59% do bioma já foi desfigurado

Já desgastado pelas frentes agrícolas que semearam arroz em banhados drenados nos anos 70 e, logo depois, por soja nas coxilhas de terra pobre, o cenário do pampa vai mudar de novo com a plantação de 500 mil hectares de eucaliptos para abastecimento de três grandes indústrias de celulose nos próximos anos.

A transformação alegra políticos à busca de soluções rápidas para a metade sul do Rio Grande do Sul, que vive dificuldades econômicas, e preocupa ambientalistas, que temem mudanças climáticas.

Eles defendem a retomada da pecuária tradicional e clamam pela criação de áreas de proteção para resguardar pelo menos 10% do ambiente nativo. Hoje só 2,7% do bioma está protegido por unidades de conservação federal, de acordo com os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE.

A chegada dos grandes projetos florestais, anunciados em 2004, coincidiu com o reconhecimento do pampa como bioma pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Ao mesmo tempo em que o tema ampliou seu espaço no debate público. "A própria cultura ecológica se traduzia por árvores e não considerava o campo como ecossistema", diz Carlos Nabinger, do Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Hoje se reconhece que os campos planos e ondulados, os capões de mato e os banhados do pampa compõem uma rica diversidade biológica, com pelo menos 3 mil espécies da flora, das quais 450 são gramíneas, mais de 400 espécies de aves e perto de cem de mamíferos, entre as quais algumas ameaçadas de extinção, como o cardeal-amarelo e o gato-palheiro.

O mapeamento da cobertura vegetal do pampa, coordenado pelo geógrafo Heinrich Hasenack, da UFRGS, feito em 2004 para o MMA, revelou que menos da metade da área do bioma (41%) apresenta cobertura natural. A transformação começou em 1634 com a criação de bovinos trazidos da Europa pelos jesuítas. Por três séculos, as mudanças se limitaram ao pisoteio do solo pelos animais, consolidando a paisagem dos campos.

Consolidação
No início do século passado, o plantio de capões de eucaliptos, usados como quebra-ventos, alterou a monotonia do horizonte. Nos anos 30 e 40, o arroz irrigado começou a ganhar espaço. Mas foi nos anos 70, com a drenagem de banhados patrocinada pelo governo militar (o projeto Pró-Várzeas) e com o boom da soja, que a agricultura tomou espaço da pecuária, da vegetação e dos animais nativos. Ao mesmo tempo, gramíneas exóticas trazidas da África, como capim anonni e braquiária, revelaram-se pragas capazes de tomar 500 mil hectares.

Nesta década, as empresas de celulose descobriram que o pampa dispunha de terras a preço barato, bom regime pluviométrico e condições de oferecer árvores para corte em apenas sete anos e apostaram numa expansão para a área. Como a economia regional, predominantemente primária, está debilitada por anos de maus resultados, os governos locais viram nos investimentos - estimados em US$ 1 bilhão no plantio de florestas e mais US$ 3 bilhões em fábricas de celulose da Aracruz, Votorantim e Stora Enso - a tábua da salvação.

A decisão do governo gaúcho de retirar as restrições colocadas por técnicos no Zoneamento Ambiental para Atividades de Silvicultura visando facilitar a emissão de licenças para o plantio de florestas revoltou os ambientalistas no ano passado. Com este ato, foram liberados para o plantio 300 mil dos 500 mil hectares programados. Somados aos 500 mil hectares já cultivados, a área florestada corresponderá a 5,6% do bioma.

Em defesa das florestas cultivadas, as empresas dizem que vão reservar áreas de preservação correspondentes ao mesmo tamanho de suas plantações de eucaliptos. Também afirmam que priorizaram a compra de terrenos degradados, indicando que a silvicultura trará ganhos ambientais. Os ecologistas lembram, no entanto, que o zoneamento indicou que as áreas mais propícias ao florestamento estão na metade norte do Estado, onde as terras são mais caras, e não no pampa.

Pesquisadores defendem que a atividade econômica mais adequada ao bioma é a pecuária. "Os 41% de cobertura natural do bioma mostram que o uso tradicional é sustentável", sugere Hasenack. Em seus estudos, Nabinger constatou que, com ajuste da carga anual de gado sobre o pasto, o criador pode elevar a produtividade de 60 quilos de carne por hectare ao ano para 250 kg/ha/ano. E, se optar pelo azevém, uma gramínea local bastante nutritiva, pode chegar a 1 mil kg/ha/ano. "Uma das formas de agregar valor é alimentar o gado com nossas gramíneas", diz.

(Por Elder Ogliari, Estadão, 02/07/2008)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -