O primeiro reator nuclear a ser produzido no país, com tecnologia nacional, deverá iniciar as suas operações em 2014. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (02/07) pelo contra-almirante Carlos Passos Bezerril, diretor do Centro Tecnológico da Marinha, durante audiência pública sobre o tema promovida pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT).
O Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (Labgene), onde será instalado o reator, já começou a ser construído em Aramar (SP). O reator que vai funcionar ali será idealizado com a dupla função de mover um submarino nuclear e fornecer energia elétrica para, por exemplo, iluminar uma cidade. A experiência desenvolvida no local servirá de base para a futura construção de reatores nucleares brasileiros.
- O complexo estará concluído em 2014, quando poderemos comprovar a nossa tecnologia - afirmou Bezerril.
Durante a audiência, que foi aberta pelo senador Gim Argello (PTB-DF), o presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Tranjan Filho, disse que as reservas brasileiras de urânio, atualmente as sextas maiores do mundo, poderão dentro de alguns anos passar à segunda ou terceira colocação. Após realizada a pesquisa de apenas 30% do território brasileiro, informou, já existem 309 mil toneladas aferidas de urânio. Com o acréscimo de duas jazidas localizadas na Amazônia, previu, as reservas deverão dobrar.
- As providências já estão tomadas para atender às necessidades futuras do programa nuclear brasileiro - assegurou Tranjan.
O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, defendeu a opção brasileira pela retomada de seu programa nuclear. Ele informou que existem atualmente 24 usinas em construção no mundo e que o número total de usinas deve dobrar até 2030. Tudo isso, a seu ver, por causa de fatores como o aumento do preço do petróleo e a preocupação com o efeito estufa. As usinas nucleares, explicou, não emitem gases que provocam o aquecimento do planeta.
- O Brasil é um dos três países do mundo que dominam toda a tecnologia do ciclo do combustível e também possuem urânio - recordou Gonçalves.
O senador Augusto Botelho (PT-RR), que também presidiu os trabalhos, disse que o orçamento público destinado ao programa nuclear cresceu depois que o tema começou a ser debatido no Senado. Ele disse ainda que o programa da Marinha para a construção de um submarino nuclear terá de "ser acelerado" depois das descobertas de grandes jazidas de petróleo em águas profundas da plataforma continental do Brasil.
O senador Romeu Tuma (PTB-SP) lamentou que a Marinha nunca tenha recebido, por parte do governo federal, os royalties a que teria direito pela exploração de petróleo na plataforma continental. Por sua vez, o senador Flávio Arns (PT-PR) alertou para a necessidade de formação de recursos humanos para o setor.
(Por Marcos Magalhães, Agência Senado, 02/07/2008)