Como é que partículas invisíveis de ouro, desconhecidas até agora, poderiam ajudar a encontrar novas minas do precioso metal? O que à primeira vista pode parecer sem sentido vai tornar-se realidade graças a uma descoberta que acaba de ser feita por cientistas australianos.
Metalogênese
Compreender como os metais cristalizam e como esses cristais se aglomeram em pontos específicos da crosta terrestre é o foco de uma disciplina da geologia chamada metalogênese. Sabendo com precisão como os depósitos minerais se formam torna-se muito mais fácil descobrí-los.
É o que deverá acontecer agora, depois que a equipe do Dr. Robert Hough descobriu nanopartículas de ouro que nunca haviam sido observadas na natureza. E não porque elas nunca haviam sido encontradas, mas porque elas são virtualmente invisíveis.
Ouro invisível
"As nanopartículas de ouro não tinham sido identificadas antes porque elas são transparentes aos feixes de elétrons [do microscópio eletrônico] e são efetivamente invisíveis," diz o Dr. Hough.
Os cristais normais de ouro encontrados nos chamados aluviões - veios de ouro depositados em partes porosas de rochas depois que o metal foi dissolvido de sua fonte primária - sempre apareceram nos microscópios cercados por uma camada escura cuja composição era desconhecida. O que o Dr. Hough descobriu é que essa banda escura é formada por cristais de ouro invisível.
A descoberta é importante para a indústria porque as nanopartículas e nanoplacas que o ouro invisível forma possuem propriedades físico-químicas diferentes dos cristais tradicionais de ouro, permitindo que ele seja estudado com vistas a aplicações tecnológicas.
Essas propriedades são semelhantes às do ouro coloidal, que é produzido de forma sintética e já vem sendo utilizado em testes promissores para a detecção de tumores cancerígenos (veja Câncer em estágio inicial pode ser detectado com nanopartículas de ouro).
Depósitos de ouro mais ricos
Mais importante ainda será para a indústria da mineração, já que a descoberta significa que seus depósitos podem ter muito mais ouro do que se acreditava.
O material estudado pelo Dr. Hough, por exemplo, não apontava nenhum teor de ouro pelos métodos tradicionais. Contudo, conseguindo detectar o ouro invisível, ele descobriu que o minério continha 59 partes por milhão de ouro puro.
Uma diferença dessas poderia viabilizar uma nova mina, principalmente agora que a onça-troy de ouro está cotada ao redor de mil dólares.
Bibliografia
Naturally occurring gold nanoparticles and nanoplates
Robert M. Hough et al.
Geology
July 2008
Vol.: 36, Issue 7 - pp. 571-574
DOI: 10.1130/G24749A.1
(Inovação Tecnológica, 03/07/2008)