O município de Lucas do Rio Verde, localizado a 300 quilômetros de Cuiabá (MT) nasceu na década de 1970 com a abertura da BR 163 e possuía uma vegetação de florestas e cerrado. Hoje, segundo a Organização Luverdense de Meio Ambiente (Oluma), com a expansão da fronteira agrícola, resta muito pouco de suas florestas. De forma geral, a organização relata como principais impactos dessa expansão o desmatamento indiscriminado, a drenagem de áreas alagadas e nascentes, destruição da reserva legal, derramamento de agrotóxico sobre os mananciais de água e sobre a área urbana do município.
Lindonésia Andrade, representante da Oluma, afirma que o custo ambiental torna a região pobre em biodiversidade e recursos genéticos, já que sua paisagem foi totalmente modificada. "Hoje, vemos enormes monoculturas de soja, milho e algodão e no período da seca a área de terras é ocupada para o confinamento de gado. Grandes áreas de banhado foram drenadas para poder cultivar suas monoculturas e garantir a mecanização destas lavouras", afirma.
Outro problema citado por ela é o "inchamento" populacional na área urbana. "As pessoas sem instrução têm dificuldade de conseguir emprego e vivem de subempregos. O poder púbico, para resolver este problema, trouxe para o município o maior frigorífico de abate de aves e suínos", relata ela.
A conclusão de que o agronegócio não melhora a vida da população nos municípios onde é implantada também já havia sido dita pelo Instituto Centro Vida (ICV) e pelo Centro de Apoio Sociambiental (Casa) durante o seminário "Soja: impactos e mecanismo sociais e econômicos" que aconteceu no dia 10 e 11 de junho, em Brasília.
AgrotóxicoO impacto dos agrotóxicos no Estado do Mato Grosso também foi uma das preocupações discutidas no seminário. Conforme já relatado pelo site Amazônia.org, apenas em 2006 o estado consumiu 88 mil toneladas de agrotóxicos e apesar de não se ter dados consolidados sobre 2007 e 2008, existem fortes indícios que esse consumo cresceu. Também há sinais de que o consumo de fertilizantes aumentou. Os últimos números, de 2005, mostram um consumo de 1,2 milhão de toneladas.
Os posseiros vivem na região e usam o espaço para a produção agrícola, com o uso de agrotóxicos o que resulta em derramamento e desmatamento das nascentes pelos produtores de soja. Dessa forma o custo dos terrenos e residências se torna muito alto, obrigando as famílias a morarem nas margens do Rio Verde causando danos a Área de Preservação Permanente (APP) do Rio Verde.
Nesse período os casos de má formação congênita e internações em hospitais também aumentaram. No estado, as internações por câncer saltaram de pouco mais de 3 mil, em 1998, para mais de 9 mil em 2006 e os casos de má formação congênita cresceram 60% no Mato Grosso, enquanto no Brasil esse crescimento foi de 17%. As internações por intoxicação triplicaram e a quantidade de óbito duplicou.
Até o ano de 2006 não havia controle dos aviões que circulavam no espaço aéreo e segundo Lindonésia somente após denuncias feitas pela sociedade civil organizada foi que o município passou a fiscalizar os aviões-aplicadores, mas o uso indiscriminado de agrotóxico ainda é polemico.
'Rio Verde Legal'A prefeitura de Lucas do Rio Verde e a ONG internacional The Nature Conservancy (TNC), apresentaram na semana passada o resultado do mapeamento do projeto Lucas do Rio Verde Legal, que segundo o site da prefeitura tem como objetivo zerar os passivos ambientais, sanitários e trabalhistas na atividade agropecuária e permitir que os produtos possam ser rastreados.
O mapeamento mostra 360 mil hectares de território, com 370 proprietários em 670 fazendas; dois mil km de rios, 690 nascentes; e 65,88% da área do município com atividades agrícolas. Os dados mostram também que mais de 10% das matas que deveriam estar preservadas estão desmatadas.
O município planta e colhe duas safras por ano, com grande estabilidade de produção e embora sua área seja de apenas 0,04% do território brasileiro, participa com mais de 1% da produção nacional de grãos - o equivalente a 1,5 milhão de toneladas anuais.
NÚMEROS DO MAPEAMENTO NO MUNICÍPIO360 mil hectares de área
370 proprietários de 670 fazendas
2000 quilômetros de rios
690 nascentes
262 açudes ou reservatórios
Agricultura: 65,88% da área do município
Pecuária:2.53%
Reflorestamento: 0,03%
Área urbana construída: 0,39%
Cerrado - savana arborizada: 2,68%
Cerrado - savana gramíneo lenhosa: 0,45%
Cerrado - savana floresta 12,71%
Corpo d'água 0,15%
Formação justafluvial 15,18%
(
Amazonia.org.br, 02/07/2008)