Pesquisadores da ONG Fundação Cristalino, em parceria com o Jardim Botânico de Kew, no Reino Unido, identificaram três espécies da flora ainda desconhecidas da ciência na região do Parque Estadual do Cristalino (entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, no extremo norte de Mato Grosso), uma das unidades de conservação mais ricas em biodiversidade na Amazônia.
As descobertas fazem parte de um relatório preliminar do programa Flora Cristalino, a primeira grande iniciativa de mapeamento da vegetação do norte mato-grossense. Iniciado em julho de 2006, o estudo já cumpriu duas etapas de campo na área do parque e em duas áreas limítrofes que estão em processo de conversão em RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural).
Na primeira incursão, foram coletadas 1.500 amostras, que permitiram identificar 700 espécies. Em fevereiro de 2008, junto com pesquisadores do Kew e da Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), foram mais mil amostras. Parte do material coletado ainda está sob análise no Reino Unido, diz a bióloga Denise Sasaki, da Fundação Cristalino, que coordenou os trabalhos de campo.
Além das espécies novas, o projeto revelou também dez espécies não encontradas antes em Mato Grosso. "Foram encontradas ainda espécies de distribuição restrita ou coletas raras no Brasil", diz Sasaki.
As novas espécies são descritas pela pesquisadora como um arbusto e dois subarbustos de pequeno porte. "É provável que tenhamos mais descobertas", diz a pesquisadora, que prepara uma terceira expedição para o mês de agosto. "Desta vez, vamos em um período de seca e esperamos encontrar uma grande variação da flora."
Os resultados do Flora Cristalino serão empregados no processo de constituição das RPPNs e também integrarão o plano de manejo do parque. "A flora da região é muito rica. Por isso mesmo, seu estudo ajuda a completar algumas lacunas de distribuição de algumas espécies", diz Sasaki.
Em um contexto de forte pressão pela abertura de novas áreas para a agricultura e a pecuária - Mato Grosso tem 19 municípios na lista dos 36 maiores destruidores da Amazônia -, a bióloga acredita que o conhecimento seja uma ferramenta para a preservação. "Está-se destruindo algo que não se conhece. Se o conhecimento aumentar, aumentam as chances de preservação", diz.
(Folha Online,
Ambiente Brasil, 01/07/2008)