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BNDES desmatamento da amazônia desenvolvimento da amazônia
2008-07-02

Na semana passada, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou, em comunicado, um aumento de 402% de aprovações de seus investimentos na região Norte.  Contudo, esse valor não resulta necessariamente na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.  "Além de ver os números, é preciso esmiuçar os tipos de projetos que o banco financia: mineração e produção de energia", afirma Carlos Tautz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

Só na Amazônia Legal, de maio de 2007 a abril deste ano, R$ 9 bi foram destinados à construção de hidrelétricas e projetos de infra-estrutura, sendo que apenas cerca de R$ 500 mi referem-se à inclusão social.  Mais de R$ 7 bi são relacionados ao financiamento da Usina Hidrelétrica de Estreito e de algumas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).  Só a Companhia Vale do Rio Doce recebeu mais de R$3 bilhões.  "Esses dados mostram que o BNDES radicalizou o modelo de crescimento que o governo defende: a exploração econômica da região. Isso confirma o perfil das empresas que o banco financia no Brasil inteiro.  Ele investe sempre em grandes empresas de produção de commodities e boa parte delas é voltada à exportação. O resultado disso é a maior concentração de renda", conta o pesquisador.

Durante o mesmo período, 1,2 bi foram atribuídos à área de insumos básicos da região.  A Alcoa Alumínio e a MMX Mineração foram as principais empresas que receberam verba do banco.  "O modelo a longo prazo que esse tipo de financiamento projeta é do tipo predatório.  Ele expressa que a região é apenas fornecedora de recursos naturais.  Esse contexto não muda desde que os europeus chegaram aqui", diz Tautz.

No setor industrial, três financiamentos de frigoríficos no MT e um da Amaggi, maior empresa exportadora de soja do país, receberam mais de R$ 735 milhões.  "Em tese esses investimentos promovem o desmatamento.  Se estimulam um frigorífico do MT, estado com altas taxas de desmate, significa que haverá mais necessidade de terras para criar o gado.  Pelo histórico, esse gado não é criado em terras degradadas, ou seja, ele vai para terras recém desmatadas", argumenta Tautz.

E a inclusão?
Enquanto isso, investimentos em inclusão social resultam em pouco mais de R$ 500 milhões, com apenas cinco projetos, três no Acre, um no Pará e um no Mato Grosso.  Apesar do pouco investimento na área, Tautz analisa como algo positivo.  "Foi uma surpresa muito boa.  O investimento, principalmente no projeto de saneamento no Acre, é um avanço já que é um estado de índices baixos de cobertura de saneamento", revela.

Segundo ele, para que haja um desenvolvimento pleno na região é preciso investir em pesquisa.  "É fundamental um desenvolvimento da rede de pesquisa biotecnológica feita por cooperativas da Amazônia.  Fazendo isso, o país só tem ganhos: mais emprego, maior valor agregado do produto, impacto ambiental baixíssimo, entre outros", finaliza. Representantes do banco também foram procurandos para serem entrevistados. Porém, até o fechamento da matéria, eles não quiseram dar entrevistas.

Dados
O banco deixa disponível na internet uma lista com os 50 maiores financiamentos no país.  A relação se divide em quatro áreas: infra-estrutura, insumos básicos, industrial e inclusão social. 

(Amazonia.org.br, 01/07/2008)


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