Na semana passada, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou, em comunicado, um aumento de 402% de aprovações de seus investimentos na região Norte. Contudo, esse valor não resulta necessariamente na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. "Além de ver os números, é preciso esmiuçar os tipos de projetos que o banco financia: mineração e produção de energia", afirma Carlos Tautz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
Só na Amazônia Legal, de maio de 2007 a abril deste ano, R$ 9 bi foram destinados à construção de hidrelétricas e projetos de infra-estrutura, sendo que apenas cerca de R$ 500 mi referem-se à inclusão social. Mais de R$ 7 bi são relacionados ao financiamento da Usina Hidrelétrica de Estreito e de algumas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Só a Companhia Vale do Rio Doce recebeu mais de R$3 bilhões. "Esses dados mostram que o BNDES radicalizou o modelo de crescimento que o governo defende: a exploração econômica da região. Isso confirma o perfil das empresas que o banco financia no Brasil inteiro. Ele investe sempre em grandes empresas de produção de commodities e boa parte delas é voltada à exportação. O resultado disso é a maior concentração de renda", conta o pesquisador.
Durante o mesmo período, 1,2 bi foram atribuídos à área de insumos básicos da região. A Alcoa Alumínio e a MMX Mineração foram as principais empresas que receberam verba do banco. "O modelo a longo prazo que esse tipo de financiamento projeta é do tipo predatório. Ele expressa que a região é apenas fornecedora de recursos naturais. Esse contexto não muda desde que os europeus chegaram aqui", diz Tautz.
No setor industrial, três financiamentos de frigoríficos no MT e um da Amaggi, maior empresa exportadora de soja do país, receberam mais de R$ 735 milhões. "Em tese esses investimentos promovem o desmatamento. Se estimulam um frigorífico do MT, estado com altas taxas de desmate, significa que haverá mais necessidade de terras para criar o gado. Pelo histórico, esse gado não é criado em terras degradadas, ou seja, ele vai para terras recém desmatadas", argumenta Tautz.
E a inclusão?
Enquanto isso, investimentos em inclusão social resultam em pouco mais de R$ 500 milhões, com apenas cinco projetos, três no Acre, um no Pará e um no Mato Grosso. Apesar do pouco investimento na área, Tautz analisa como algo positivo. "Foi uma surpresa muito boa. O investimento, principalmente no projeto de saneamento no Acre, é um avanço já que é um estado de índices baixos de cobertura de saneamento", revela.
Segundo ele, para que haja um desenvolvimento pleno na região é preciso investir em pesquisa. "É fundamental um desenvolvimento da rede de pesquisa biotecnológica feita por cooperativas da Amazônia. Fazendo isso, o país só tem ganhos: mais emprego, maior valor agregado do produto, impacto ambiental baixíssimo, entre outros", finaliza. Representantes do banco também foram procurandos para serem entrevistados. Porém, até o fechamento da matéria, eles não quiseram dar entrevistas.
Dados
O banco deixa disponível na internet uma lista com os 50 maiores financiamentos no país. A relação se divide em quatro áreas: infra-estrutura, insumos básicos, industrial e inclusão social.
(Amazonia.org.br, 01/07/2008)