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conservação dos cetáceos
2008-07-01

Dezoito países da América Latina aproveitam hoje o turismo de observação de baleias e golfinhos, o que representa para a região cerca de US$ 278 milhões por ano. Porém, faltam normas, pesquisa e educação para garantir que seja sustentável. “Em 1978, eu levava ao local de observação de baleias-francas (Eubalaena australis) 60 passageiros durante toda a primavera e hoje levo 60 em uma hora”, contou ao Terramérica o empresário argentino Ricardo Orri, pioneiro no fornecimento destes serviços em Península Valdés, na austral província de Chubut.

A partir de 1998, o avistamento de cetáceos a partir de embarcações e as pesquisas por meio de identificação fotográfica começaram a se multiplicar por toda a região, que abriga cerca de 64 espécies de baleias, golfinhos e botos, das 86 conhecidas no mundo. Destacam-se a baleia-azul (Balaenoptera musculus), que habita as águas do Chile, a baleia cinza (Eschrichtius robustus) e as jubarte (Megaptera novaeangliae), em Belize, El Salvador, Guatemala e México, entre outros países, além da baleia-franca, que aparecem nas costas de Brasil, Argentina e Uruguai.

A Argentina recebe a maior quantidade de turistas e observadores da região (244.432), segundo estudo do Fundo Internacional para a Proteção dos Animais e seus Hábitat (Ifaw), da Global Ocean e da Sociedade para a Conservação de Baleias e Golfinhos. “A região trabalha no reordenamento da atividade para que seja um turismo de qualidade e responsável”, disse ao Terramérica o argentino Miguel Iñíguez, um dos autores desta pesquisa apresentada durante a 60ª reunião da Comissão Baleeira Internacional, realizada na capital chilena, entre 23 e 27 deste mês. É indispensável estabelecer mecanismos legais de conservação do recurso, regulamentar o funcionamento dos operadores, educar as comunidades envolvidas e realizar pesquisas cientificas de controle, destacou Iñígnez.

O estudo “Estado do Avistamento de Cetáceos na América Latina” indica que, entre 1998 e 2006, a observação destes animais aumentou 11,3% na região, 4,7 vezes mais do que o crescimento do turismo regional no mesmo período. Nos oito anos analisados, as comunidades costeiras participantes passaram de 56, em oito países, para 91, em 18 nações. Estima-se que 885.679 pessoas desfrutaram deste tipo de turismo durante 2006, gastando aproximadamente US$ 278 milhões. Neste ano serão mais de um milhão.

Depois da Argentina, os países que mais turistas atraem por essa razão são Brasil (228.946), México (169.904) e Costa Rica (105.617). Este último registra o maior ritmo de crescimento nos oito anos analisados (74,5%), seguido do Chile (19,5%), Equador (17.8%) e Colômbia (17,6%). O turismo de observação “está levando muitos benefícios às comunidades costeiras da Costa Rica, que estavam bastante deprimidas pela superexploração de peixes”, disse ao Terramérica Javier Rodríguez Fonseca, comissário científico desse país junto à CBI.

Em 2005, o governo baixou um decreto regulamentando a atividade, mas nem sempre é respeitado, admitiu Fonseca. “Há pessoas muito dispostas a cooperar e outras nem tanto. Muitas vezes existe uma pressão para agradar o turista, ocorrendo demasiada aproximação dos cetáceos”, disse o especialista. Por isso, se trabalha em oficinas de capacitação. O comitê científico da CBI se mostrou preocupado com as atividades aéreas de observação de baleias no Brasil e Chile, pelo impacto que podem ter nos cetáceos. Se os molestamos demais – tanto de embarcações quanto do ar – existe a possibilidade de migrarem para outros lugares.

A Bolívia, apesar de ser um país mediterrâneo, começou em 2006 o avistamento do bufeo (Inia boliviense), um golfinho endêmico que habita o rio amazônico Mamoré. Os primeiros 400 turistas deixaram US$ 166 mil na pequena comunidade que presta o serviço. Os serviços são prestados por 789 operadores, com pouco mais de uma embarcação cada um. O estudo demonstra com números atualizados o crescimento desse tipo de turismo, o que deve reforçar a posição conservacionista dos países latino-americanos versus a carnificina levada adiante por três nações dentro da CBI, disse ao Terramérica a porta-voz do Ifaw, Aimee Leslie.

A CBI, criada em 1946 pelos países signatários da Convenção Internacional para a Regulamentação da Caça de Baleias, acordou, há 22 anos, uma moratória para a caça comercial de todas as espécies, que não é seguida apenas por Islândia e Noruega, que capturam em suas águas jurisdicionais. O Japão iniciou, em 1987, um questionado programa de caça cientifica. Em matéria de avistamento sustentável, já existem iniciativas inovadoras. No dia 17 de julho, quando começar a temporada de observação no Uruguai, será lançado o programa de certificação “Rota da Baleia-Franca”, informou ao Terramérica Rodrigo García, da não-governamental Organização para a Conservação de Cetáceos, desse país.

Trata-se de um selo que será entregue aos que cumprirem boas práticas ambientais, que deverá ser renovado anualmente. Este ano, são 32 candidatos a recebê-lo, entre operadores, hotéis e restaurantes. “A chave é que o avistamento de cetáceos se realize de forma cautelar: que o governo tenha sempre o poder de dirimir sobre o assunto e que os prestadores de serviço estejam mais comprometidos com a conservação do que com sua própria empresa”, concluiu Ricardo Orri.

(Por Daniela Estrada*, Envolverde, Terramérica, 30/06/2008)
* A autora é correspondente da IPS.

 


 


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