Os chimpanzés, espécie em vias de extinção, devem agora enfrentar mais uma ameaça. Depois de ter realizado uma campanha de estudos no Parque Nacional das Montanhas Mahale, na Tanzânia, uma equipe de cientistas da universidade norte-americana Virginia Tech revelou a contaminação de nossos primos mais próximos por vírus de origem humana, às vezes mortais. Não contente em destruir os chimpanzés através da caça ilegal e do desmatamento, o ser humano também está lhes transmitindo suas doenças.
Em um artigo publicado na edição de agosto da revista "American Journal of Primatology", Taranjit Kaur e colegas constatam que alguns chimpanzés sofrem afecções respiratórias crônicas devidas a uma mutação do metapneumovírus humano, responsável por bronquites e pneumonias. Esses trabalhos confirmam os resultados recentes obtidos por vários institutos europeus e divulgados em fevereiro na revista "Current Biology". Eles salientaram a presença de vírus semelhantes em cadáveres de chimpanzés no Parque Nacional de Tai, na Costa do Marfim. Portanto, o fenômeno não seria isolado e poderia cobrir todo o território africano.
Máscaras e testes
"A origem exata desse vírus e sua via de transmissão específica continuam pouco claras", afirma Kaur, que pede estudos mais intensos e a implantação de uma vigilância das doenças infecciosas entre os chimpanzés. No entanto, há um certo número de indícios de que as amostras analisadas seriam provenientes de turistas ou... de cientistas. O ecoturismo e a pesquisa muitas vezes foram apresentados aos países em desenvolvimento como uma maneira de valorizar as espécies em perigo e seu hábitat natural. O objetivo era forçar os governos a proteger os animais a fim de obter contrapartidas econômicas e ecológicas. Mas o risco infeccioso, evidenciado por esses estudos, poderia acelerar a extinção dos chimpanzés e superar os benefícios.
"O ecoturismo é o coração das economias locais e nacionais dos países que abrigam vida silvestre. Se ele parar será devastador para suas populações, muito dependentes dessas fontes de renda", comenta Kaur. Em conseqüência, a pesquisadora preconiza um certo número de adaptações para fazer evoluir o setor e preservar as populações restantes de grandes primatas: o uso sistemático de máscaras cirúrgicas para os pesquisadores e os turistas, testes para os funcionários do parque, programas de sensibilização, etc.
Sabrina Krief, primatologista e mestre de conferências no Museu Nacional de História Natural, pretende, no entanto, relativizar alguns pontos levantados por Kaur. Ela salienta que protocolos sanitários estritos já foram adotados por diversas reservas como, por exemplo, em Uganda com os gorilas. "As doenças são impressionantes porque atacam com força e rapidamente. Mas a mortalidade devida a elas continua marginal", explica Krief. Portanto, não seria necessário se desviar das principais causas do desaparecimento progressivo dos grandes primatas. Há necessidade de conscientização dos governos locais. Eles devem tomar medidas estritas contra a caça, os riscos de conflitos locais e o desmatamento.
(Por Xavier Venutolo, Le Monde, UOL, 01/07/2008)