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Indígenas da Amazônia
2008-06-30

Pouca gente já ouviu falar nos povos indígenas da família lingüística Arawá, habitantes da região do médio Purus. Um número ainda menor conhece os trabalhos de Curt Nimuendaju (nascido Kurt Unkel, na Alemanha, em 1883, e naturalizado brasileiro. Morreu em 1945) sobre os Apinayés ou os Timbira orientais, marcos dos estudos etnográficos no Brasil.

Informações dessa natureza começam a se tornar mais acessíveis ao público em geral. Um projeto de pesquisa produzido por professores do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (Neai), vinculado ao Programa de Pós-Graduação de Antropologia Social (PPGAS), da Universidade Federal do Estado do Amazonas (Ufam), está fazendo um mapeamento das atividades das instituições e da produção bibliográfica relacionadas aos povos indígenas e disponíveis no Estado.

O coordenador do projeto, Gilton Mendes, professor do Departamento de Antropologia da Ufam, explica que o trabalho consiste em levantamento de acervo bibliográfico, organização de ficha catalográfica, criação de banco de dados e sistematização de informações, por meio de um conjunto de softwares denominado Sistema de Informações Geográfica (SIG), o que permitirá à população a coleta, armazenamento, edição e visualização de dados a partir de mapas temáticos.

“A intenção é reunir o máximo possível de informações, espalhadas em acervos reais e virtuais, e organizá-las nesse sistema, que possibilitará às pessoas identificarem a localização em que cada pesquisa foi desenvolvida”, explicou.

Segundo Mendes, o projeto, intitulado “Amazônia Indígena”, conta com recursos da ordem de R$ 26 mil provenientes do Programa de Infra-Estrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos (PPP), resultante de convênio entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Em pouco mais de seis meses de atividade, o grupo já coletou em torno de 1,4 mil títulos, entre os quais livros, artigos, CDs, DVDs, monografias, dissertações e teses, a partir de levantamento em bibliotecas, acervos particulares e núcleos de pesquisas, bancos de teses e outros. “O resultado está sendo surpreendente. Superamos a expectativa inicial de capacidade e velocidade de coleta dos títulos bibliográficos”, afirmou.

Mesmo em se tratando de dados parciais, Mendes adianta algumas constatações. Uma delas indica que a maior parte das obras coletadas é caracterizada pela multidisciplinaridade. Outro dado importante é que o alto rio Negro concentra o maior número de trabalhos produzidos.

“Enquanto o alto rio Negro apresenta um volume significativo de produção, maior do que qualquer outra região amazônica, algumas calhas do Solimões se caracterizam por um vazio bibliográfico”, lamentou Mendes, que atribui o fato, entre outras causas, a maior presença institucional na região em relação a outras. “A pesquisa tem demonstrado, até o momento, que a atuação institucional e a produção científica andam juntas.”

O material coletado até agora está em processo de análise para elaboração do primeiro relatório parcial do projeto, a ser entregue à Fapeam em agosto. Participam ainda do projeto os pesquisadores Frantomé B. Pacheco, Deise Lucy Montardo, Maria Helena Ortolan, Carlos Machado Dias, José Basini Rodriguez (na condição de colaborador) e mais nove alunos dos cursos de ciências sociais, geografia e letras da Ufam, que atuam como bolsistas pelo Programa de Apoio à Iniciação Científica do Amazonas (Paic), da Fapeam.

As principais áreas de estudo dos pesquisadores são lingüística, organização social (coletivos indígenas urbanos), natureza e cultura, xamanismo, ritual e música, territorialidades, política indígena e indigenismo.

Dificuldades e sucessos

Apesar da relevância do objeto, alguns obstáculos estão retardando o desenvolvimento do estudo. No caso da vertente que se propõe a realizar a análise de instituições, por exemplo, um dos grandes problemas, segundo Mendes, é a falta de colaboração de algumas entidades, que não permitem o acesso a informações.

A dificuldade na catalogação de material audiovisual é outro desafio para a pesquisa, uma vez que em alguns casos não existe nenhum tipo de identificação dos registros.

Mesmo assim, os pesquisadores comemoram os desdobramentos positivos do projeto, prevendo que ele deverá estimular novas investigações – inclusive inéditas – junto aos povos tradicionais no Amazonas, uma vez que possibilitará identificar as áreas do conhecimento e regiões menos exploradas.

Além disso, segundo o coordenador, os participantes (pesquisadores e alunos) atuam levantando material e, ao mesmo tempo, têm possibilidade de acesso a informações que podem favorecer o desenvolvimento de pesquisas individuais, conforme as áreas de interesse. “É o que podemos chamar de projeto guarda-chuva”, disse.

Os interessados em ter acesso aos primeiros resultados da pesquisa podem se dirigir à rua coronel Sérgio Pessoa, nº 147, centro, Manaus, onde funciona a sede do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (Neai/PPGAS).

(Por Lisângela Costa, Agência Fapeam/Fapesp, 30/06/2008)


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