Ex-diretor do DMLU tem 23 anos de atividade no PMDB e no PPS
Nos últimos 23 anos, o ex-diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) Garipô Selistre, 56 anos, se envolveu em brigas para proteger peças de propaganda de candidatos, espalhada nos períodos eleitorais por Porto Alegre. A maioria dos enfrentamentos foi à moda antiga, na força física. Agora, pela primeira vez, ele está envolvido numa briga que não depende de músculos, mas de sofisticadas estratégias políticas e legais.
Garipô figura entre seis personagens que serão indiciados pela Polícia Civil por formação de quadrilha e tentativa de fraude à licitação de R$ 305 milhões de coleta de lixo na Capital, abortada em 2006.
Nem seus atuais companheiros de PPS, que receberam ajuda dele na eleição do prefeito José Fogaça, em 2004, têm esboçado um gesto mais audaz em sua defesa. No final da noite de sábado, ao falar com Zero Hora por telefone, ele não demonstrou ressentimento. Muitos dos consultados por ZH simplesmente desligaram o telefone quando foram perguntados sobre Garipô.
- Não estou preocupado com o passado - diz.
Segundo o Ministério Público, licitação teria sido "malfeita"
A situação é ainda mais complicada do que supõe Garipô. Em meio às investigações, o Ministério Público Especial (MPE), vinculado ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), solicita que ele devolva R$ 194.441,43 aos cofres públicos. O valor está relacionado às despesas que a prefeitura teve com a licitação para coleta de lixo na Capital, que acabou cancelada em função de suspeitas de irregularidades. A cobrança recai sobre o ex-diretor do DMLU porque ele é responsabilizado, no inquérito criminal, pelos trâmites que geraram a licitação fracassada.
Em documento que ajuda a embasar o inquérito policial, o MPE considera a licitação "malfeita" e repleta de "falhas administrativas". O mesmo relatório diz que esse tipo de erro é passível de ressarcimento por parte dos responsáveis - no caso, Garipô.
Políticos ligados à cúpula de PMDB, PPS e PTB e ex-colegas de trabalho de Garipô concordam em um ponto: apesar de formado em Administração de Empresas, ele tem pavio curto. Várias vezes usou o físico avantajado para fazer valer seu ponto de vista - muitas vezes em discussões banais.
Na época em que trabalhou na Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) ele era conhecido como "SWAT" - força policial especial - por ser o homem que "resolvia os entraves colocados pela burocracia". Trabalhou em campanhas do deputado estadual Cézar Busatto e do deputado federal Nelson Proença - então no PMDB. Coordenava a fixação de cartazes e cavaletes com publicidade na rua.
- Garipô era o nosso homem para impedir que adversários destruíssem nossa propaganda - diz um amigo.
Em agosto de 2006, quando veio à tona o episódio da tentativa de fraude na licitação do DMLU, ele havia combinado com seus superiores na prefeitura a versão de que teria pedido para se afastar do cargo com o objetivo de facilitar a apuração. A primeira versão que veio a público foi a de que teria sido demitido. Ficou furioso e abriu as baterias. Disse a Zero Hora, no dia 9 de agosto de 2006:
- Quem ganhou (referindo-se à saída dele do DMLU) foi a máfia que controla a repartição. Os seus nomes serão informados à Justiça.
Garipô não identificou os três mafiosos. No final da noite de sábado, perguntado por ZH sobre quem seriam as três pessoas, respondeu:
- Esse caso tomou um rumo inesperado. Prometi ao meu advogado que não falaria sobre o inquérito e não vou falar.
Garipô foi recontratado pela prefeitura para trabalhar na Procempa. Posteriormente, assumiria o conserto dos 144 postos de saúde da cidade. Um companheiro diz:
- O andar de cima tem medo do estrago que a língua do Garipô pode fazer.
(Por Carlos Wagner, Zero Hora, 30/06/2008)