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extinção de espécies
2008-06-30

Até onde se pode ver, tudo é verde e negro. Em fileiras apertadas, milhares de arbustos de folhas ovais carnudas, cobertas de espinhos, alinham-se sobre a terra vulcânica, tão escura quanto o húmus, e finalmente refrescada pelas primeiras chuvas. O nopal (Opuntia ficus indica) é sem dúvida o mais mexicano dos cactos - ao ponto de estar representado na bandeira nacional. E o melhor nopal cresce em Milpa Alta, ao sul do México, graças à altitude e ao conhecimento dos camponeses, que cultivam as lavouras em terraços construídos por seus ancestrais nahuatl.

À entrada de Milpa Alta, contudo, alguns estandartes revelam uma certa inquietude: "Chin-chun-chan nopales chinos" ("Abaixo os nopales chineses!). Para muitos camponeses, é inadmissível que uma planta nascida há sete mil anos no altiplano central do México seja cultivada com sucesso na Ásia, e que depois retorne à América na forma de conservas, cosméticos e complementos alimentares. "Há mais de dez anos", conta Mario Martinez, encarregado do desenvolvimento agrícola no município, "os chineses vieram aqui pedir explicações sobre como cultivávamos o nopal. Ninguém desconfiou! Eles estavam concentrados em sua transformação industrial. E agora nós vemos chegar produtos 'made in China' feitos à base de nopal." Desde 2003, a China conseguiu até mesmo destronar o México e assumir o primeiro lugar como fornecedora dos Estados Unidos nesse mercado.

"Eles copiaram absolutamente tudo, até mesmo a Virgem de Guadalupe (emblema do catolicismo mexicano)", desabafa José Luis Cabrera, prefeito de Milpa Alta. "Em conseqüência, nós desencadeamos um processo de certificação, para conseguir uma apelação controlada. Mas nossa maior dificuldade foi convencer as pessoas daqui que não deveriam se limitar a comercializar o nopal como um produto fresco."

Patente
Há cerca de meio século, os camponeses abandoraram as outras culturas para se dedicarem apenas ao cultivo do nopal. "Aqui, o chamamos de 'o ouro verde', já que ele sustenta 13 mil famílias", conta Angelica Olvera, proprietária, juntamente com seu pai, de uma área de 3,5 hectares.

No México, o nopal é antes de mais nada consumido como legume, com os espinhos retirados à mão, depois fatiado, cozido na água e servido como salada. Sua cor lembra a da vagem, mas sua consistência, ao mesmo tempo crocante e viscosa, surpreende o paladar ocidental. Os estrangeiros logo descobriram as virtudes do nopal: ele diminui o colesterol, e, sobretudo faz baixar a taxa de açúcar no sangue, um trunfo precioso num país em que a diabete caminha a passos de epidemia. Os especialistas encorajam as indústrias de alimento a usar a farinha de nopal para fabricar tortillas com valor dietético. Vendidos pela marca Nopalia, as "tostadas" (tortillas torradas) compostas por 60% de nopal fizeram uma aparição discreta sob os holofotes.

"Argumentamos que os chineses não tinham a patente da planta. Mas a Organização Mundial do Comércio não permite isso", lembra-se M. Cabrera. "Em compensação, é totalmente possível patentear os derivados industriais". Acordados pela iniciativa chinesa, os agricultores de Milpa Alta estão hoje explorando outras formas de uso do nopal, como resgatar sua aplicação para fixar pigmentos de pinturas, como se fazia na construção tradicional. Há alguns meses, eles conseguiram reunir uma dezena de pequenas empresas que produzem condimentos, compotas ou até mesmo xampu à base do precioso cacto, e sugeriram que elas passassem a usar marcas e rótulos.

Portanto, por falta de iniciativa, os "nopaleros" da região do México se arriscam a conhecer o mesmo destino dos fabricantes de goiabeiras de Yucatan. Essas camisas brancas típicas dos trópicos, muito confortáveis no calor, foram copiadas pelos ateliês chineses e são produzidas a preços baixos para serem vendidas a redes de distribuição como o Wal-Mart.

(Por Joëlle Stolz, Le Monde, tradução de Eloise De Vylder, UOL, 30/06/2008)

 


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