Se o mundo quiser evitar um desastre climático e ao mesmo tempo manter o crescimento econômico, precisará aumentar em oito vezes a quantidade de dólares gerados na economia por tonelada de gás carbônico queimado. A conclusão é de um relatório elaborado por uma consultoria internacional e divulgado ontem (28) no Japão.
A má notícia da análise, feita pelo McKinsey Global Institute, é que a última vez que o mundo viu uma mudança de produtividade dessa magnitude foi na Revolução Industrial --e ela levou 125 anos, tempo de que a humanidade não dispõe.
A boa notícia é que o custo dessa mudança até 2030 será de no máximo 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, menos ainda do que os quase 3% estimados pelo IPCC, o painel do clima da ONU.
A chamada "produtividade de carbono" média da economia global é hoje de US$ 740 de PIB por tonelada de CO2 emitido. Se todo mundo tivesse de limitar emissões como o clima demanda e viver com essa produtividade, um cidadão teria de escolher entre dirigir 40 km, usar ar-condicionado por um dia ou fazer duas refeições.
Para que isso não aconteça, em 2050, o valor precisará alcançar US$ 7.300 de PIB por tonelada de CO2. A Noruega é o país mais próximo da meta, com US$ 4.700 de PIB por tonelada de CO2. O Japão tem US$ 3.000; os EUA, US$ 2.000, e a China, US$ 1.200.
Segundo Eric Beinhocker, da McKinsey e co-autor do relatório, 70% do abatimento de emissões de CO2 pode ser feito com tecnologias existentes hoje em dia. A conclusão, ao mesmo tempo em que reforça a mensagem do IPCC, desfaz o mito -propagado pelo atual governo americano- de que só será possível enfrentar as mudanças climáticas com uma "revolução tecnológica".
O próximo passo da empresa será fazer relatórios de oportunidade de redução de emissão para alguns países isoladamente -entre eles, a Índia.
Mas, nesse primeiro relatório, de âmbito geral, a consultoria aponta diversas maneiras de reduzir emissões e ganhar eficiência simultaneamente. Uma das sugestões é o uso do biocombustível da cana-de-açúcar --que teria, segundo a McKinsey, um custo negativo para a sociedade. Seria como obter um ganho econômico em resposta à economia de energia, assim como o uso de lâmpadas mais eficientes.
Outras chamadas "oportunidades de abatimento" (ou de mitigação) indicadas -essas com custo positivo, de até 40 por tonelada de CO2 cortada --são aumentar a eficiência de aviões, investir em energia nuclear e reformar termelétricas.
O documento diz, ainda, que nenhuma ação isolada no setor energético conseguirá atingir todo o potencial de redução de emissões. É preciso investir em energia solar, eólica e em alterar uso do carvão para gás.
Outro dado do estudo deveria ser encarado como uma oportunidade para o Brasil: segundo a McKinsey, o desmatamento evitado, sozinho, responde por 12% do potencial global de redução de emissões. se o reflorestamento é somado, dá 25% do total mundial.
Florestas "vitais"
A consultoria afirma que o sucesso na conservação é "vital" para atingir as metas de redução de emissões no mundo. Sem o setor florestal, o custo de medidas de redução substitutas aumentaria de 40 para 60 por tonelada de CO2. "Infelizmente, não existe hoje um esquema para reduzir emissões do desmatamento e da degradação da floresta", diz o texto.
A consultoria pondera que um desafio nesse ponto é que muitos países em desenvolvimento ricos em floresta não possuem ferramentas eficientes de administração, monitoramento, esquemas de reflorestamento e de ataque à derrubada de mata ilegal. O relatório não cita nomes.
O estudo foi apresentado por Beinhocker no fórum de parlamentares do G8+5 (os oito países mais ricos e os cinco grandes emergentes, entre eles o Brasil), realizado em Tóquio.
Segundo o relatório, o custo macroeconômico da "revolução do carbono" é "gerenciável" -da ordem de 0,6% a 1,4% do PIB global em 2030. Para Beinhocker, o investimento pode ser visto como uma "apólice de seguro" para o mundo.
(Por Afra Balazina, Folha Online, 29/06/2008)