Proposta de deputado do PMDB reúne assinaturas para criar grupo destinado a abrir caixa-preta do movimento
A polêmica entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Ministério Público Estadual (MPE) chegou à Assembléia Legislativa. A iniciativa do peemedebista Nélson Härter de abrir uma comissão de representação externa para investigar repasses de dinheiro público para ONGs ligadas ao MST e à Via Campesina é a mais nova controvérsia a dividir o parlamento.
A partir da iniciativa do procurador de Justiça Gilberto Thums, que chegou a sugerir a dissolução do MST em uma reunião do Conselho Superior do Ministério Público em dezembro do ano passado, militantes acusam Brigada Militar, procuradores e o próprio Judiciário de atuar pela extinção do movimento. Na Assembléia, o debate em torno do MST deve se estabelecer com a comissão de Härter. O deputado não teve dificuldades em conquistar as 19 assinaturas necessárias. Já na quarta-feira obteve 20 - sem falar com ninguém da sua própria bancada, segundo ele.
Aliadas dos sem-terra, as bancadas de esquerda previsivelmente querem distância do requerimento da comissão. O líder de bancada Raul Pont (PT) admite que é legítimo que Härter proponha a criação de uma comissão, mas avalia que outros assuntos estão mais em voga no momento - como a expansão da silvicultura na Metade Sul do Estado para atender à indústria de celulose.
- É engraçado. Härter está preocupado com as ONGs e não com as ações das papeleiras - diz Pont.
Dionilso Marcon (PT), ligado ao MST, avança em relação ao argumento de Pont. Marcon acredita que a iniciativa de Härter é uma espécie de retaliação a ele por ter criado uma comissão para discutir o plantio de eucalipto por empresas de silvicultura em larga escala:
- Härter está fazendo perseguição. Mas não vai encontrar nada, porque não existem ONGs ligadas ao MST.
Deputado do PP vai cobrar punição a invasores pelo Incra
Depois de Härter, o primeiro a assinar o pedido de comissão foi Jerônimo Goergen (PP). Identificado com o agronegócio e ex-aluno de Thums na Faculdade de Direito, Goergen elogia a iniciativa de criar a comissão. Ele disse que vai cobrar do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a aplicação de uma lei que retira invasores da fila para assentamento.
- Depois da identificação dos sem-terra por parte da Brigada Militar, não tem mais desculpa para o Incra.
Goergen ressalva que o argumento para investigar o MST e mesmo defender a sua extinção se assenta nos atos violentos supostamente praticados nas invasões, e não no posicionamento ideológico de esquerda defendido por seus integrantes.
- O problema é que o MST anda com foice e tem aulas de guerrilha. Os policiais que acompanham as invasões são os mesmos que faltam na cidade - afirma.
(Por Adriano Barcelos, Zero Hora, 28/06/2008)