A reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, nesta sexta-feira (27), na capital da Venezuela, terminou sem avanços na área de integração energética.
O encontro ocorreu na sede da petroleira PDVSA, em Caracas, e serviu para o anúncio de pequenas parcerias bilaterais e de um acordo de compra de gás venezuelano que só terá resultados práticos em 2013.
Nenhum avanço sobre os projetos da Petrobras com a estatal venezuelana foi apresentado.
Ao longo da semana, assessores do governo venezuelano e representantes do Itamaraty sugeriram que poderia ser anunciada nesta sexta-feira a resolução para o impasse em torno de pelo menos dois projetos --sobre uma refinaria em Recife, no Brasil, e sobre a participação da Petrobras em exploração na faixa petrolífera do Orinoco, na Venezuela.
Licitação
Em entrevista coletiva após a assinatura de acordos, na sede da PDVSA, Lula disse que a demora "se deve ao fato de que são duas empresas grandes e poderosas e estão estabelecendo denominadores comuns para fechar o acordo".
O presidente também afirmou que, no projeto conjunto de exploração e produção de petróleo pesado no campo de Carabobo 1, na faixa do Orinoco, a Petrobras, em vez de entrar sozinha com 10%, como previsto anteriormente, quer participar do processo licitatório com as outras empresas.
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, negou que as recentes descobertas de jazidas petrolíferas no pré-sal da Bacia de Santos tenham levado a empresa a se desinteressar pelo empreendimento na Venezuela.
"Na verdade, ter diversidade de fontes (de petróleo) é sempre bom. Não há uma relação significativa entre uma coisa e outra" afirmou Gabrieli, ao final do evento com os presidentes.
Projetos
Desde 2005, os cinco projetos que a Petrobras anunciou como possibilidade de parceria com a PDVSA não saíram do papel.
Nem mesmo o mais adiantado desses projetos, a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, tem a parceria definida.
Há três meses, em um encontro dos dois presidentes em Recife, foi assinado um acordo de associação entre a PDVSA e a Petrobras. No entanto, os estatutos sociais, o acordo de acionistas e o contrato de compra venda de petróleo ainda precisam ser elaborados.
Uma assessora da Petrobras disse à BBC Brasil que a empresa "prefere analisar com calma os contratos antes de fechar o acordo e não poder voltar atrás".
Acordos
Durante a visita de Lula à Venezuela foram assinados 21 acordos --oito entre os governos e o restante entre empresas brasileiras e venezuelanas.
Os presidentes firmaram um acordo que prevê a extensão da rede de abastecimento energético das hidrelétricas de Guri e Tucurui Belo Monte que poderá gerar entre 2.000 e 3.000 megawatts.
O projeto se tornará viável após a construção do chamado Linhão Tucuruí-Manaus-Macapá, ainda em fase de leilão, de 1.829 quilômetros de linhas de transmissão, que deverá conectar a região amazônica ao resto do país.
Lula e Chávez também assinaram um protocolo de intenções para que a Petrobras compre, futuramente, GNL (Gás Natural Liquefeito) da PDVSA.
Durante a reunião, foi exibido um vídeo sobre as obras do complexo de produção e polietileno e polipropileno no estado Anzoategui, onde a Braskem desenvolve dois empreendimentos com a petroquímica venezuela Pequivem, em um projeto no valor de US$ 5,4 bilhões.
O encontro bilateral desta sexta-feira foi o quarto entre Lula e Chávez desde setembro do ano passado, quando os dois presidentes acertaram que se reuniriam a cada três meses. O próximo encontro está marcado para setembro, no Brasil.
(Por Claudia Jardim, BBC Brasil, Folha Online, 27/06/2008)