Cerca de 70 pessoas, entre ribeirinhos, ambientalistas, representantes de ONGs e movimentos, além de estudantes e moradores da região participaram ontem (25) do lançamento do livro "Águas Turvas: alertas sobre as conseqüências de barrar o maior afluente do Amazonas", que aconteceu em Porto Velho (RO).
O evento, organizado por Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, contou com a presença de Glenn Switkes, diretor para América Latina da ONG International Rivers e organizador do livro; Carolina Diniz - advogada da ADT; Zuleica Castilhos, doutora em Geociências (Geoquímica) e pesquisadora e José Riqueta, representante da Comunidade Ribeirinha São Domingos. "O evento gerou polêmica. Tinha gente a favor e contra a construção da usina. Conseguimos, porém, mostrar que o projeto, o qual muitos acham que foi aceito, ainda não foi consumado e há muitas falhas", revela Diniz, que discutiu a ilegalidade do processo de licenciamento ambiental e o que está sendo feito em termos jurídicos para garantir os direitos das populações afetadas e a proteção ao meio ambiente.
Zuleica Castilhos expôs os riscos para a população da região com o aumento da concentração de mercúrio nos peixes do Madeira, que são a base de sua alimentação. A pesquisadora também é autora de um dos capítulos de "Águas Turvas". Por sua vez, o representante da comunidade ribeirinha denunciou a pressão que a população vem recebendo do consórcio Madeira Energia S.A. para deixarem seus lotes, mesmo antes da empresa receber a licença de instalação do empreendimento. Segundo ele, o consórcio inicialmente promoveu alguns eventos para que a comunidade soubesse as "vantagens" que a usina traria, mas agora ele está praticamente induzindo a venda das terras, oferecendo aos habitantes o valor de R$ 1 mil por hectare. O ribeirinho conta que um estudo feito recentemente avaliou que cada hectare de terra da região vale pelo menos R$ 12 mil.
LivroA publicação apresenta as principais contradições do Complexo Hidrelétrico e Hidroviário do Rio Madeira, além de questões ainda não respondidas com relação à sua viabilidade socioambiental. Os artigos pretendem servir de instrumento para aqueles que buscam compreender melhor o histórico do projeto e suas implicações para a região Amazônica.
A iniciativa de publicação do livro é da ONG Centro de Informação Bancária (BIC), como parte de uma série de estudos do seu programa BICECA (sigla em inglês de Construindo Incidência Cívica Informada para a Conservação da Amazônia Andina). O apoio financeiro para a publicação foi proporcionado pela Fundação Gordon e Betty Moore, Fuundação Kendeda, Fundo Blue Moon e Fundação Ford.
International Rivers coordenou a elaboração dos estudos de caso. Os artigos foram escritos por especialistas de renomadas instituições brasileiras e estrangeiras, tais como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Universidade Yale (EUA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Mayor de San Andrés (Bolívia), entre outros.
O livro "Águas Turvas" está disponível.
Leia.(
Amazonia.org.br, 27/06/2008)