A seguir, Clarissa Lins, diretora executiva da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, fala sobre o avanço do conceito nas companhias:
Zero Hora - A sustentabilidade é uma preocupação apenas de grandes grupos?
Clarissa Lins - O conceito começa a se disseminar nas empresas de menor porte, pela cobrança de dois agentes. Os grandes bancos estão introduzindo entre seus critérios para concessão de financiamento variáveis sociais e ambientais. Isso tem influência imediata na gestão de negócios das empresas de médio porte. O segundo grande fator é que as grandes companhias querem influenciar seus fornecedores, que são as empresas de menor porte. Esses dois agentes, além da sociedade civil, exercem o poder de controle e de monitoramento das empresas.
ZH - Alguns ambientalistas dizem que as empresas mantêm processos nocivos ao ambiente e destinam uma parte pequena dos lucros para sustentabilidade. Como o Brasil pode superar isso?
Clarissa - Com o escrutínio constante dos agentes externos à companhia. Temos de mostrar que isso não é o que se espera dessas empresas. É um processo de educação. É preciso mostrar que sustentabilidade é mais do que filantropia e assistencialismo. É incorporar o tema em cada tomada de decisão.
ZH - A oportunidade que a produção de biocombustível representa para o Brasil corre o risco de ser mal-aproveitada por causa das denúncias de produção suja e das precárias condições de trabalho nos canaviais?
Clarissa - É preciso entender o que está por trás dessa pressão externa. Tem a ver com interesses comerciais de países desenvolvidos. O outro lado dessa questão é até que ponto os nossos empresários estão se modernizando. Tem empresário que sabe que tem de comprovar, por meio de certificações, prestação de contas e transparência de processos. Agora, não são todos que entenderam isso. Tem um espaço enorme para as empresas brasileiras ganharem essa batalha.
ZH - Um dos maiores projetos industriais em curso no Estado é o de produção de celulose. Muitos avaliam que esse é o tipo de fábrica que os países desenvolvidos não querem mais. As empresas produzem de maneira diferente, mais responsável, no primeiro mundo?
Clarissa - As grandes reflorestadoras são empresas de porte mundial. Estão no Brasil porque há áreas disponíveis. São pautadas pelas boas práticas e, quando isso não ocorre, enfrentam questionamentos de seus financiadores. São empresas muito analisadas no Exterior e, por isso, muito cuidadosas.
(Zero Hora, 27/06/2008)