Vazamento de óleo em Montevidéu pode ter matado aves
Pelo menos 59 pingüins-de-magalhães escaparam com vida de um vazamento de óleo na costa uruguaia.
O acidente é a causa mais provável da morte de cerca de 500 aves encontradas no Litoral Sul, entre a praia do Cassino, em Rio Grande, e Santa Vitória do Palmar, na fronteira do Brasil com o Uruguai. Do grupo, apenas um chegou sem manchas de óleo no corpo.
Os animais sobreviventes estão sendo tratados no Centro de Recuperação de Animais Marinhos (Cram) do Museu Oceanográfico da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), em Rio Grande. O número ainda pode crescer nos próximos dias, com o aparecimento de outras aves e animais marinhos na praia, contaminados de óleo.
O vazamento seria conseqüência do choque entre dois navios, ocorrido em 4 de junho, a 30 quilômetros da costa uruguaia, quando 14 mil litros de combustível contaminaram o mar. No Uruguai, já foram registradas dezenas de mortes de pingüins atingidos pela mancha de óleo, e pesquisadores da Furg também estão no país vizinho ajudando na recuperação das aves. Devido ao deslocamento dos animais - que nesta época do ano rumam ao litoral do Estado em busca de alimento - e das correntes marinhas, os efeitos da contaminação agora são percebidos no Rio Grande do Sul.
O oceanólogo Lauro Barcellos, diretor do Museu Oceanográfico, conta que cerca de 500 pingüins mortos foram encontrados no Litoral Sul, esta semana, durante monitoramento periódico feito pelos pesquisadores na costa. Os que são resgatados com vida, apesar de bastante debilitados, têm atendimento especial.
Aves migram da Argentina para costa gaúcha no inverno
No centro da Furg, as aves recebem primeiro hidratação e alimentos à base de pasta de peixe. Depois de recuperarem o peso normal - de 3,5 a 4,5 quilos - , passam por uma lavagem especial, com água e detergente específico para a retirada do óleo. Após longo período de descanso, serão devolvidos ao mar, provavelmente em agosto.
Da espécie pingüim-de-magalhães, as aves migram para a costa gaúcha durante o inverno, vindas das colônias localizadas no sul da Argentina e do Chile, em busca de alimento. A maior parte dos animais encontrados é de jovens. O coordenador do Laboratório de Ornitologia de Animais Marinhos da Unisinos, Martin Sander, explica que, após a reprodução, os filhotes são deixados pelos pais nas ilhas do sul da América Latina. Os pequenos acabam aventurando-se ao mar em busca de alimento ou arrastados por correntezas. Alguns não sobrevivem ao trajeto, principalmente devido às tempestades. Outros ingerem lixo deixado pelas embarcações ou ficam sujos pelo óleo. Quando aparecem na costa gaúcha, estão com a saúde comprometida.
Para Sander, a morte em função de exaustão ou das correntes é própria da natureza, que seleciona os indivíduos. O problema está na crescente ação do homem na mortandade dos pingüins.
- Hoje quase morrem mais indivíduos do que nascem - alerta, revelando que um estudo da Unisinos apontou a possibilidade de extinção da espécie em 20 anos, caso não haja mudança no ritmo da mortandade.
Conforme Sander, só uma análise detalhada poderá garantir se o óleo que atingiu as aves tem origem no acidente entre os dois navios no Uruguai.
(Por Rodrigo Santos, Zero Hora, 27/06/2008)