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2008-06-27

O diretor da Campanha do Milênio, Salil Shetty, teve de enfrentar a mudança climática em 2007. Agora, é a vez da crise alimentar mundial. “No ano passado as pessoas diziam que a mudança climática seria obstáculo ao progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Hoje, dizem o mesmo sobre a crise alimentar”, afirmou Shetty, entrevistado pelo Terra Viva/IPS. “Creio que se os governos tivessem investido nos Objetivos, não estaríamos discutindo isso”, ressaltou, durante a oitava assembléia mundial da Aliança Mundial para a Participação Cidadã (Civicus), realizada na semana passada na cidade escocesa de Glasgow.

Entre os objetivos figura reduzir pela metade a proporção da população mundial que sofre pobreza e fome; conseguir educação primária universal; promover a igualdade de gênero; reduzir a mortalidade infantil em dois terços e a materna em três quartos, tudo isso até 2015, em relação aos níveis de 1990. o compromisso se completa com o combate à expansão do HIV/Aids, malária e outras doenças; assegurar a sustentabilidade ambiental e gerar uma sociedade global para o desenvolvimento entre o Norte e o Sul.

Este ano, a Organização das Nações Unidas avaliará o cumprimento dessas metas em uma reunião convocada para 25 de setembro, em paralelo à Assembléia Geral, que definirá o curso da segunda metade da campanha. Além dos chefes de Estado e de Governo e de representantes da sociedade civil, participarão grandes empresários.


IPS - Qual a solução para a crise alimentar?
Salil Shetty -
O mundo está se concentrando em encontrar soluções de alta tecnologia para problemas de baixa tecnologia, e essa é uma razão pela qual a crise alimentar mundial constitui uma interpelação aos governos. Os especialistas haviam previsto a crise, embora tenha surgido mais cedo do que o esperado. Por que? Porque os governos estavam ocupados desenvolvendo infra-estrutura e setores de moda, como a indústria e os serviços.


IPS - Quais avanços foram feitos rumo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e quais se perderam?
Salil Shetty -
Fazer qualquer comentário a respeito é generalizar. Se disser que a África tem resultados contraditórios não significaria muito. Uma mirada em alguns dos países mais pobres como Tanzânia, Zâmbia, Malawi, Burkina Faso e Malí revela que estão a caminho de conseguir pelo menos seis dos Objetivos. Para compreender o avanço a essas metas temos que nos limitar realmente e passar ao local. Em cinco anos a Tanzânia reduziu em 30% a mortalidade infantil, o que é muito elogiável. Uma das lições importantes da avaliação do ano passado foi que os objetivos podem ser atingidos. Os países onde os governos levaram os assuntos a sério, de desenvolvimento e destinação de recursos – como o Vietnã – têm mais probabilidades de cumpri-los. Os Objetivos também estão em marcha onde os fundos do governo chegam às pessoas. O Vietnã é um sucesso espetacular e o crédito também vai para o compromisso de seu povo.


IPS - Qual é a sua prioridade, como diretor da Campanha do Milênio?
Salil Shetty -
Aumentar a mobilização e o ativismo. Programamos audiências nacionais sobre os objetivos em 20 países para fazer ouvir a voz das pessoas, além de debates nos meios de comunicação. Também tentamos envolver os parlamentares nestes debates e pressionamos para que haja um controle e uma observação independentes por parte das organizações não-governamentais. Por fim, detectamos os problemas na implementação. A governabilidade e a corrupção realmente são obstáculo ao desenvolvimento e ao crescimento. Outro problema importante é a exclusão de pessoas e comunidades. Dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, sete estão relacionados, em sua maior parte, com os países do Sul, enquanto o oitavo fala de uma associação mundial para o desenvolvimento. A comunidade internacional precisa se esforçar. O volume de ajuda cresceu, mas a qualidade dessa ajuda ainda é errática. Por outro lado, o comércio atravessa um grande caos. Mas, o cancelamento de dívidas ajudou muito.

(Por Rahul Kumar, Envolverde, IPS, 25/06/2008)


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