O senador Jefferson Praia (PDT-AM) chamou a atenção, nesta quarta-feira (25/06), para a importância de o Brasil, assim como outros países emergentes, assumir posições de vanguarda no debate sobre meio ambiente. O alerta foi provocado por declarações à imprensa da parte do ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos, que exortou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a liderar movimento em prol de um acordo internacional sobre o clima.
Para Lagos, representante especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas, a Amazônia "é do Brasil, e o governo [brasileiro] não tem necessidade de temer uma internacionalização da floresta por causa do debate ambiental". Em contrapartida, o Brasil precisa ter um papel ativo no processo de negociação do novo acordo, estabelecendo, por exemplo, um preço a ser pago para que uma árvore não seja cortada. "Podemos calcular isso com base no gás carbônico que a árvore, em média, absorve na floresta amazônica", sugeriu Lagos.
Segundo Jefferson Praia, depois de ponderar que "a floresta é de soberania do Brasil, mas que a destruição pode afetar a todos", Lagos disse que os países emergentes precisam até mesmo liderar a criação de um organismo internacional que trate de meio ambiente. "Se nós não fizermos isso, os países ricos vão montar suas regras e depois teremos de adotá-las", advertiu o representante da ONU.
- Com sua longa experiência de estadista, Lagos prevê que, se ficarmos a reboque das grandes potências nessas negociações, só nos restará sofrer as conseqüências que nos vierem a ser impostas, aí incluídas futuras barreiras protecionistas contra as nossas exportações, a exemplo de sobretaxas pelas emissões envolvidas na produção e no transporte desses produtos - alertou o parlamentar amazonense.
Segundo Jefferson Praia, o ex-presidente chileno defendeu ainda a criação de uma nova classificação de países. Os ricos ficariam com a maior responsabilidade de cortar emissões, enquanto os mais pobres não teriam metas preestabelecidas. Mas um grupo intermediário teria algumas responsabilidades, já que suas emissões são cada vez maiores, como no caso da China e da Índia.
Hoje, pelas regras do Protocolo de Kyoto, os chamados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) permitem às empresas poluidoras dos países ricos terceirizar suas obrigações quanto à redução das emissões de gás carbono mediante o patrocínio de iniciativas de conservação e reflorestamento nas nações em desenvolvimento, oferecendo a estas últimas um incentivo financeiro para que poluam menos.
- Por mais louvável que sejam esses mecanismos, não passam de uma corrida contra o prejuízo, providência mais reativa do que proativa. O que o Brasil e o planeta precisam, a meu ver, é de um projeto para prevenir e não para remediar - disse o senador, que sugeriu a criação de um fundo internacional financiado pelos países ricos para a preservação da floresta em pé, no Brasil e nos demais países amazônicos.
(Por Nelson Oliveira, Agência Senado, 25/06/2008)