O setor de inteligência dos Estados Unidos acredita que os resultados das mudanças climáticas para o planeta nos próximos 20 anos vão aumentar a instabilidade no mundo e podem trazer mais sobrecarga para as forças militares norte-americanas, de acordo com um relatório entregue ao Congresso nesta quarta-feira (25).
Mudanças climáticas podem impulsionar migrações e aumentar as disputas pela água na África subsaariana, no Oriente Médio e no centro e sudeste da Ásia, diz o relatório. O estudo fez uma avaliação das implicações das mudanças climáticas em questões de segurança por volta de 2030.
O setor de inteligência apresentou um quadro misto dos perigos. O relatório afirma ser improvável que as mudanças climáticas sozinhas desencadeiem a derrocada de qualquer país, mas previu o agravamento da pobreza, tensões sociais, degradação ambiental e enfraquecimento das instituições políticas.
"À medida que as mudanças climáticas produzem mais situações de emergência humanitária, a capacidade da comunidade internacional de responder a elas estará cada vez mais difícil", disse o vice-diretor de análises no setor de inteligência nacional, Thomas Fingar, ao descrever as conclusões para dois comitês da Câmara dos Deputados. Ele disse que os Estados Unidos, em particular, serão requisitados para atender a essas demandas.
Essas respostas às crises humanitárias podem "sobrecarregar significativamente as estruturas das forças de transporte e apoio militar dos EUA, resultando em um esforço excessivo para a prontidão das tropas e redução da profundidade da estratégia para as operações de combate", afirmou Fingar. O estudo prevê que climas mais árduos levarão mais pessoas a tentar migrar "mais cedo" tanto para outras regiões de seu país como para países mais ricos.
Nas nações da África subsaariana, a produção de algumas lavouras que dependem de determinada quantidade de chuva poderia ser reduzida à metade por volta de 2020, mostrou o estudo. Sem ajuda alimentar, a África subsaariana provavelmente enfrentará nova crise de instabilidade e em especial conflitos violentos entre etnias nas disputas pela propriedade de terras, diz o relatório.
Em contraste, na maior parte da América do Norte o rendimento líquido de lavouras de cereais vai aumentar de cinco a 20 por cento, segundo o estudo. O relatório diz ainda que a liderança dos EUA no mundo será julgada pela "amplitude com que o país é visto como formador de um consenso global e eficaz para enfrentar as mudanças climáticas".
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 26/06/2008)