Em meio a gráficos e estatísticas sobre superávit primário e trajetória da inflação, a promoção do álcool ganhou espaço na agenda que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, encerrou nesta quarta-feira (25) em Londres.
Em pelo menos duas ocasiões o presidente da autoridade monetária tentou publicamente distanciar o álcool brasileiro, feito a partir da cana-de-açúcar, do biocombustível feito nos Estados Unidos e na Europa a partir do milho e da beterraba, respectivamente.
Em eventos com a comunidade empresarial, Meirelles seguiu a estratégia do governo brasileiro de mostrar a investidores internacionais que o álcool de cana-de-açúcar é eficiente, não agride o meio-ambiente e nem cria pressões inflacionárias.
Mais: criticou os subsídios concedidos pelos países ricos à sua própria produção de biocombustível.
"É preciso separar o álcool feito de milho do álcool de cana-de-açúcar", afirmou, na segunda-feira. "Dá para ver claramente que o etanol de cana-de-açúcar é mais econômico", reforçou.
Segundo números do Ministério de Minas e Energia, o biocombustível brasileiro tem um balanço energético --a comparação entre a quantidade de energia consumida na fabricação do biocombustível e a energia liberada pela sua queima-- de 9,3 unidades, contra 2,3 do feito com beterraba e 1,9 do álcool de milho.
Um dado que reforça as críticas contra os subsídios à produção de etanol nos países ricos, considerada sem sentido do ponto de vista econômico. "Os países devem repensar os subsídios à produção ineficiente de álcool", afirmou o presidente do BC.
Subsídios
As declarações são feitas no momento em que a Oxfam, uma conhecida organização internacional de combate à fome, pede o fim do que considera "subsídios generosos" para produzir álcool.
"Os países ricos gastaram até US$ 15 bilhões no ano passado para apoiar seus próprios biocombustíveis ao mesmo tempo em que impedem a entrada do álcool brasileiro, que é mais barato e que é muito menos prejudicial para a segurança alimentar global e para o meio ambiente", afirma o relatório da Oxfam, que considera o biocombustível brasileiro "o mais favorável do mundo."
Recentemente, as críticas dirigidas genericamente à produção mundial de álcool incomodaram o governo brasileiro, que chegou anunciar a elaboração de uma "estratégia comum" para defender o produto no exterior.
Entre os argumentos está o de que o país ainda dispõe de uma grande área de terras aráveis --usa apenas cerca de 60 milhões de hectares de um total de 400 milhões-- e que por isso a produção de biocombustíveis não disputa espaço com a produção de alimentos.
Ao repetir os números, Meirelles observou que grande parte dessas terras está no Centro-Oeste do país e hoje é usada para a pecuária. Ele notou que mudanças tecnológicas na última década permitiram ao país transformar em cultiváveis terras que antes não podiam ser aproveitadas para agricultura.
"O Brasil está atualmente em uma posição única na cena global", defendeu. "É possivelmente um dos poucos países no mundo com capacidade de elevar a produção de alimentos, tendo uma grande área de terra arável não utilizada que pode ser incorporada à produção regular para responder à crescente demanda mundial por comida. O setor agrícola brasileiro tem a tecnologia, o know-how e os recursos necessários para enfrentar o desafio."
(BBC Brasil, Folha Online, 25/06/2008)