O Brasil tem a meta de se tornar em dez anos auto-suficiente em fertilizantes, especialmente em fósforo e produtos nitrogenados, e o governo poderá atuar no setor para incentivar a produção caso não deslanchem os investimentos privados, afirmou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
Segundo ele, os fertilizantes, que representam entre 40 e 50% do custo de produção de grãos, agora viraram questão de segurança nacional, no momento em que o mundo vive um problema de oferta de alimentos e crescentes temores inflacionários, que afetaram inclusive o Brasil, grande exportador de produtos agrícolas.
A grande preocupação ocorre porque o Brasil, apesar de sua força agrícola, importa a maior parte do adubo que consome, produto que teve alta de preço de mais de 100% para algumas formulações.
"Temos levantamento de todas as minas existentes no Brasil, nas mãos de quem está a lavra. E se for o caso, o governo vai entrar", afirmou o ministro a empresários do setor nesta terça-feira em evento promovido pela BMFBovespa.
Falando à platéia, o ministro foi mais enfático sobre a necessidade de as empresas aumentarem seus investimentos.
"Três ou quatro empresas que dominam o mercado no Brasil e no mundo praticamente sentaram em cima das minas e não estão explorando", disse ele durante sua apresentação, lembrando em seguida que "uma empresa" (a Bunge) anunciou investimentos de mais de R$ 3 bilhões na exploração. "Ótimo, é isso que nós queremos."
Depois, o ministro afirmou que o objetivo do governo é ter uma "agenda positiva" com as empresas que produzem fertilizantes no Brasil.
"Queremos que comecem a investir e acelerem o seu cronograma de pesquisa ou de lavra no sentido de nos tornarmos auto-suficientes", disse ele, prevendo que isso deve ocorrer entre cinco e dez anos.
Se as empresas não acelerarem investimentos, reafirmou o ministro, o governo "estuda a alternativa de participar em consórcio possivelmente com os produtores rurais para exploração de algumas minas, como vai acontecer com o Mato Grosso".
Segundo ele, o governo poderá financiar a exploração de minas de fosfato em Mato Grosso, em terras de propriedade dos próprios agricultores.
Ele não deu mais detalhes desse plano para o desenvolvimento da produção de fosfato, cujas reservas são grandes e distribuídas por boa parte do território nacional.
Stephanes disse ainda que a produção de fertilizantes nitrogenados deverá contar com uma maior participação da Petrobras no processo.
"A Petrobras vai entrar mais forte com exploração de gás na bacia de Santos", explicou, referindo-se à matéria-prima básica no processo de produção de nitrogenados.
No setor de potássio, o terceiro elemento básico dos fertilizantes, o ministro vê mais dificuldades de o Brasil se tornar auto-suficiente.
"A questão do potássio é mais difícil. Temos apenas duas minas conhecidas no Brasil: uma explorada pela Vale em Sergipe e a a segunda a Vale também detém os direitos de lavra, e já está fazendo investimentos. Só que a soma dessas duas explorações não dará 20% das nossas necessidades", explicou.
O ministro lembrou ainda que o País conta com uma grande mina de potássio em Nova Olinda, no Amazonas, perto da confluência do Rio Madeira com o Amazonas, mas há dificuldades técnicas e ambientais. De qualquer forma, o governo já iniciou estudos para explorar a reserva.
(REUTERS,
Amazonia.org.br, 25/06/2008)