No último domingo, jornal britânico afirmou que tribo era conhecida do governo brasileiro havia quase cem anos
RIO DE JANEIRO - Uma organização que defende os direitos dos povos indígenas negou nesta terça-feira, 24, que, junto com o governo brasileiro, tenha enganado a mídia no mês passado sobre fotos de uma tribo isolada da Amazônia. O jornal britânico Observer informou no último domingo que a tribo não seria "não descoberta", mas sim conhecida do governo brasileiro há quase cem anos, e que as fotos foram uma tentativa de divulgar o risco que os índios enfrentam por causa da ação dos madeireiros.
A reportagem levou alguns órgãos de imprensa a qualificar as fotos de fraude. Mas a organização que ajudou a divulgar as fotos no dia 29 de maio, a Survival International, cuja sede fica em Londres, afirmou que não havia descrito a tribo como "perdida" e havia dito na época que o objetivo era mostrar ao mundo sua existência. "Esses índios estão em uma reserva expressamente estabelecida para a proteção das tribos não-contactadas. Dificilmente eles eram 'desconhecidos"', assinalou em um comunicado o diretor da Survival International, Stephen Corry. "O que é verdade, e continua sendo, é que até onde se sabe até agora, estes índios não tiveram nenhum contato pacífico com pessoas de fora."
As fotos dos índios pintados com pigmentos e ameaçando com arcos e flechas o avião onde estava o fotógrafo foram divulgadas pela mídia do mundo todo. Muitos órgãos de imprensa informaram que se tratava de uma tribo "perdida" e uma descoberta completamente nova. O funcionário da Funai José Carlos Meirelles, que tirou as fotos, disse à época: "Nós fizemos o sobrevôo para mostrar as casas, para mostrar que eles estão lá", segundo a Survival International.
Em uma entrevista à TV árabe Al Jazeera, que o Observer usou como fonte para sua reportagem, Meirelles deixou claro que encontrar a tribo não foi tarefa fácil. Usando coordenadas de satélite, ele disse ter sobrevoado uma ampla área da floresta por três dias e somente ter localizado a tribo no terceiro dia, quando faltavam poucas horas para terminar o vôo. O Observer não fez comentários de imediato sobre sua reportagem.
O diretor da Survival disse que a decisão de fotografar os índios se justificou porque aumentou a pressão sobre o governo peruano para que houvesse ações contra o corte de madeiras perto da fronteira com o Brasil. Os defensores das tribos dizem que os madeireiros são a principal ameaça aos povos indígenas da região. "A publicação das fotos levou o governo peruano a investigar o fato, o que foi um grande passo, uma vez que apenas alguns meses atrás o presidente do Peru questionou publicamente a existência de índios não-contactados", disse ele.
(Por Stuart Grudgings, Reuters, Estadão, 24/06/2008)