"Acabou a moleza. Boi pirata vai virar churrasco do Fome Zero", anunciou nesta terça-feira (24) ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, ao divulgar a apreensão, pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Polícia Federal, de 3.100 cabeças de gado criados ilegalmente na estação ecológica Terra do Meio, em Altamira, no Pará. Desde 2005, a área foi declarada de conservação e há um ano a Justiça determinou a saída dos criadores de gado do local. De acordo com Minc, os bois serão leiloados dentro de duas semanas.
Na Terra do Meio estão ainda outras 40 mil cabeças de gado, mas os fazendeiros já as estão retirando, com a transferência para propriedades legais, em São Félix do Xingu, visto que ficaram assustados com a apreensão dos 3.100 bois pertencentes ao fazendeiro Lourival Medrado Novaes dos Santos, da fazenda Lourilândia. O fazendeiro tinha sido autuado e fora intimado pela Justiça a sair do local. Levando-se em conta que o valor médio de uma rês nelore - igual às apreendidas - é de R$ 4 mil, o prejuízo do fazendeiro é estimado em R$ 12 milhões, pelo menos.
As outras 40 mil cabeças de gado que vinham sendo criadas ilegalmente em áreas invadidas na Terra do Meio pertencem a 17 fazendeiros diferentes. Destes, 15 já foram notificados. "Queremos que eles tirem o gado das áreas de preservação e o transfiram para fazendas legais", disse Minc. "Somos a favor do agronegócio. Queremos que eles atuem na legalidade, porque assim conseguirão riquezas para o Brasil. Na ilegalidade, serão combatido sem tréguas", afirmou.
De acordo com o ministro, os proprietários da fazenda Lourilândia confiavam que não seriam importunados, apesar das advertências feitas anteriormente. Tanto é que nos dias 9, 10 e 11 vacinaram o gado. No curral de vacinação, foram encontrados pelos agentes 60 frascos de vacina contra febre aftosa - suficientes para três mil cabeças -, dez frascos de vacina contra brucelose e seis litros de vermífugos. Foram encontrados ainda 24 eqüinos, galinhas, porcos, cachorros e gatos.
Minc informou também que nesta terça-feira (24) pela manhã uma grande operação do Ibama e da Polícia Federal fez o embargo da fazenda Simonato, de dez mil hectares, em Costa Marques, Rondônia. De acordo com o ministro, houve derrubada da mata nativa no local. O proprietário tem 15 dias para retirar o gado de lá e levar para algum pasto regular. Caso contrário, também pode perder seu rebanho bovino.
Minc disse que a atividade ilegal tem contado com o beneplácito das autoridades políticas locais, o que torna um pouco mais difícil a atividade dos fiscais. Mas ele afirmou que entende o papel dos políticos. "Eles são mais sensíveis à pressão, porque estão no local. Então, a tendência é querer ajudar", disse. "Nosso papel, ao contrário, é evitar o desmatamento. Por isso, vamos usar a inteligência. Mexemos na cadeia produtiva e isso está fazendo efeito. Vai nos ajudar a combater o desmatamento".
Num coro ao ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, Minc disse que o grande problema da Amazônia hoje é a falta de regularização fundiária. "Sem a regularização, não há política pública. Por isso, temos de resolver logo a questão fundiária", afirmou.
(Agência Estado,
Gazeta do Povo, 25/06/2008)