A mudança climática já está afetando as baleias, afirmaram na terça-feira (24/06) cientistas e organizações de preservação que participam da 60ª reunião da Comissão Internacional de Caça às Baleias, que começou na segunda-feira, 23, em Santiago no Chile. Segundo relatório do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, em inglês), da Sociedade de Conservação de Baleias e Golfinhos e da Fundação Vida Silvestre (FVSA) da Argentina, 30% do gelo que cobre o Oceano Antártico desaparecerão nos próximos 40 anos, prejudicando os cetáceos da região
De acordo com o documento, as espécies de baleias mais afetadas seriam as migratórias, como a baleia azul e a jubarte, que precisariam viajar até 500 quilômetros mais ao sul para se alimentar. Outra espécie que sofrerá as conseqüências do aquecimento global será a baleia minke antártica, que já é prejudicada pelas caçadas para "fins científicos", especialmente pelo Japão.
Os especialistas acrescentam que os efeitos da mudança climática no gelo marinho causarão a redução da quantidade de krill, a principal fonte de alimento da maior parte das espécies de baleias Antárticas. "A redução do krill é extremamente prejudicial para 80% das baleias do mundo que se alimentam nos oceanos do sul", afirmam os especialistas.
"As baleias têm uma oportunidade na Antártica, precisamos aumentar e melhorar a capacidade de adaptação das baleias para que possam enfrentar a mudança climática, através da redução de outras ameaças", disse Juan Casavelos, coordenador do projeto Mudança Climática na Antártica, da Fundação Vida Silvestre da Argentina. Entre estas ameaças, ele mencionou a caça para fins científicos, a pesca não sustentável, a poluição, o turismo e transporte marinho intensivo.
A mudança climática está na agenda da reunião da CBI, que ocorrerá até esta sexta-feira e é assistida por aproximadamente 500 delegados de 80 países. No primeiro dia de reunião, na qual será decidido o prolongamento ou não da moratória da caça de baleias, o comitê científico da CBI entregou um relatório que constatou grandes reduções de exemplares desses animais a partir dos anos 70 e verificou que muitas espécies se encontram "em um precário estado de preservação".
No entanto, o Japão, que burlou a moratória, em vigor desde 1986, com o pretexto de "caça científica", insistiu na reunião em que há muitas espécies de cetáceos que não estão ameaçadas e que podem ser capturadas mediante uma atribuição de cotas. O Japão atua amparado por um artigo da Convenção Internacional para a caça de baleias, que, em 1946, deu origem à CBI e que até agora não foi derrubada pelos setores conservacionistas, ao não reunir os dois terços dos votos necessários para isso. Nesta reunião, o país asiático afirmou que não apresentará dados a respeito, embora, segundo relatórios conhecidos, o Japão cace anualmente cerca de 1.400 baleias.
(Efe, Estadão, 24/06/2008)