Explorar a iluminação natural nas escolas da rede pública de ensino é plenamente possível. Além de reduzir o consumo de energia elétrica, ela também favorece o desempenho dos estudantes e a sua saúde. O arquiteto Dimas Bertolotti usou as dimensões estabelecidas pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) para uma sala de aula das redes estadual e municipal e, em escala, projetou uma maquete de maneira que se priorizasse o bom uso da luz natural dentro dela, de forma viável e com baixo custo.
O modelo tinha um décimo das medidas reais, ou seja, 72 centímetros de largura e de profundidade e 30 centímetros de altura, pesando cerca de oito quilos.
“Trata-se de um projeto simples, que também pode ser adaptado nas salas de primeiro e segundo grau já existentes, no estado de São Paulo”, comenta o arquiteto.
Estratégias
Bertolotti estudou as melhores maneiras de potencializar o uso da luz natural nas escolas, analisando casos bem-sucedidos em outros países, especialmente nos Estados Unidos. “No Brasil ainda não há grande conscientização sobre o tema”, lamenta o pesquisador. Chegou-se então a algumas estratégias: orientar a construção na direção norte-sul; evitar a entrada da radiação direta do sol, que podem causar o efeito chamado “ofuscamento”, no qual a quantidade exagerada de luz prejudica a visão; limitar a visão direta do céu e combinar a iluminação artificial com a natural.
Para atingir esses objetivos, o arquiteto combinou o uso de brises, que são lâminas que impedem que o sol entre diretamente na sala, colocadas horizontal e verticalmente nas janelas; e do dispositivo zenital, que utiliza a luz solar refletida no teto da construção, por meio de difusores opacos, permitindo a entrada de maior quantidade de luz no lugar. “Há um bom aproveitamento da luz difusa e da luz direta por reflexão”, comenta Bertolotti.
Benefícios
Utilizando sensores de medição de luz dentro da maquete, posicionada no campus da Cidade Universitária em um dia de verão, o pesquisador coletou dados sobre a incidência de luz natural ao longo do dia dentro da sala de aula. Com o auxílio de um programa de simulação por computador deduziu-se que, com o projeto apresentado, a economia de energia elétrica nas salas de aula seria de 65% a 82% ao ano, dependendo da utilização ou não de sensores de luz, que acendem a luz artificial caso a luz natural não seja suficiente para iluminar a sala.
Além disso, estudos comprovam que a luz solar bloqueia a produção de melatonina, hormônio que propicia o sono. Dessa forma, as pessoas sentem mais disposição e tornam-se mais produtivas. Isso resulta na melhora do desempenho escolar e do humor e aumenta a freqüência de presença nas aulas. A luz natural também auxilia no crescimento e diminui as chances de ocorrência de cáries dentárias. Tudo isso contribui para um ambiente de estudo e trabalho mais saudável para estudantes e professores e para a redução do consumo de energia elétrica.
Ainda não se sabe se o projeto será incorporado nas escolas do estado, “mas seria uma ajuda eficaz para a melhora das salas do ensino público”, conclui o arquiteto, que apresentou em abril de 2007 a maquete na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP como parte de sua dissertação de mestrado Iluminação natural em projetos de escolas: uma proposta de metodologia para melhorar a qualidade da iluminação e conservar energia.
(USP online, 23/06/2008)