Há algumas semanas, seis ativistas do Greenpeace subiram a bordo de um navio chamado “Sucesso de Yang Ming” na baía de Victoria, em Hong Kong. Sua missão: evitar que a tripulação descarregasse o chamado lixo eletrônico, remanescentes tóxicos de computadores e outros aparelhos eletrônicos. E tiveram sucesso – desta vez, pelo menos.
Muitas vezes, os Estados Unidos e os países europeus despacham lixo eletrônico para Hong Kong para ser desmontado no interior da China, onde o cobre, o ferro e outros metais valiosos são retirados e vendidos. O Greenpeace e outros grupos ambientais alertam que os trabalhadores, que usam pouco ou nenhum equipamento de segurança ao lidarem com esses aparelhos, acabam inalando metais pesados tóxicos como cádmio (que prejudica os pulmões), assim como chumbo e mercúrio (conhecidos por causarem dano cerebral). Os metais tóxicos – assim como os gases emitidos pela queima de plástico e materiais do gênero na tentativa de desmontar os aparelhos – também contaminam o ar e a água usada por esses trabalhadores.
Com tantos riscos, o governo chinês baniu em 2000 a importação das estimadas 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico geradas no mundo todo a cada ano – cerca de três milhões de toneladas só nos Estados Unidos, de acordo com a Agência Ambiental Americana (EPA). Depois que a China suspendeu essas importações oficialmente, a maior parte do negócio foi transferida para países menos desenvolvidos, e com menos regulamentações ou nenhuma, como o Paquistão e a Nigéria, mas brechas na lei ainda permitem que parte das cargas chegue à China, de acordo com Lo Sze Ping, diretor de comunicações da base chinesa do Greenpeace.
A única maneira de resolver o problema, segundo Ping, é proibir o uso de metais tóxicos em computadores – e reciclar (em vez de descartar) aqueles que estão sendo usados agora. A indústria de computadores dos Estados Unidos já implementou um programa voluntário chamado Ferramenta de Avaliação Ambiental de Produtos Eletrônicos (EPEAT, na sigla em inglês), dedicado a fornecer padrões para computadores mais “verdes”, assim como para manter o lixo eletrônico fora dos aterros, onde a maior parte vai parar. Atualmente não há qualquer regulamentação para o descarte de eletrônicos nos Estados Unidos, mas alguns estados, como Califórnia e Massachusetts, com a ajuda de ambientalistas, estão pressionando o congresso americano a adotar leis federais.
(Por David Biello, UOL, 23/06/2008)