Quando multidões caminharem pela Avenida Park e os ciclistas tomarem conta da Rua Lafayette, a questão pode atingir até o mais confiante transeunte: de quem foi essa idéia? "Ruas de Verão" - projeto experimental da cidade de Nova York que irá converter 12 km das vias de Manhattan em uma zona livre de carros durante partes de três sábados em agosto - nasceu nos Andes. A idéia surgiu há 32 anos em Bogotá, Colômbia, como a "Ciclovia", uma rota hoje com 113km que atravessa a cidade e atrai mais de um milhão de pessoas todos os domingos.
O modelo de Bogotá inspirou muitas outras cidades. De El Paso a Ottawa, carburadores se tornaram um alvo, pelo menos em algumas áreas. Carros foram proibidos nas passagens de Guadalajara e ao longo das praias improvisadas parisienses para dar espaço às hordas dos pedais. Gil Penalosa, um pioneiro do incentivo ao fim do uso dos carros, vai de cidade em cidade plantando as sementes da Ciclovia, um programa que ele ressuscitou há uma década quando era líder de recreação de Bogotá.
Quando Penalosa, 51 anos, assumiu o gabinete em 1995, a Ciclovia, então com 12km, estava em declínio e parecia prestes a ser encerrada. Hoje, o projeto semanal está quase nove vezes mais longo e pode atrair até 1,8 milhão de usuários nos dias de sol, afirmou Penalosa. "É quase algo mágico que acontece quando as pessoas vão a um lugar proibido", disse Penalosa em uma entrevista de Portland, Oregon, onde esteve para falar em uma conferência sobre alternativas ao uso de carros. "De repente, as ruas estão cheias de pessoas e você pode fazer o que quiser".
Ele falou sobre a Ciclovia com uma paixão que empresta a si mesma alguns pontos de exclamação: "Não há perdedores!" "É um negócio fantástico!" "É a melhor coisa que a Colômbia já fez!"
Oposição
Mas a Ciclovia e seus similares têm críticos. Proprietários de negócios geralmente reclamam que fechar as ruas reduz o fluxo de clientes e prejudica as vendas e motoristas reclamam da inconveniência resultante de se fechar as principais ruas de uma cidade. Na cidade de Nova York, onde as feiras de rua e paradas causam dor de cabeça aos motoristas durante essa época do ano, alguns se preocupam que o novo projeto, que estará em vigor das 7h as 13h nos dias 9, 16, e 23 de agosto, irá tornar o congestionamento intolerável.
Bhairavi Desai, diretor executivo da Aliança de Taxistas de Nova York, com 11.000 membros, disse que o programa é "ridículo" e que irá dificultar a vida dos motoristas. Agosto é o mês mais lento para os táxis, disse Desai, com as tarifas cerca de 10% abaixo do normal. Além disso, os motoristas já esperam uma demanda menor durante as paradas que celebram a Índia e o Paquistão no mesmo mês.
"Eu acho que a administração deveria se lembrar que Manhattan não é um parque de diversões", disse Desai. "É um lugar de trabalho para milhares de pessoas". A cidade de Nova York conquistou a reputação de ser uma metrópole anti-ciclismo, mas criou planos para melhor as condições de segurança nos próximos anos para os cerca de 112,000 ciclistas diários.
Barbara Ross veio para a cidade há 15 anos e tinha muito medo de enfrentar as ruas cheias de carros, onde portas abertas podem derrubar um ciclista. Ross, 45, agora é uma ciclista habitual e porta-voz do grupo ambientalista Time's Up. Segundo ela, o "Ruas de Verão" foi um passo positivo para tornar a bicicleta uma opção aos nova-iorquinos. Ela também disse que espera que o projeto se torne popular e que a cidade ofereça mais faixas para bicicletas. "Tudo bem que comecem devagar, mas a cidade precisará
(NYT, Ultimo Segundo, 24/06/2008)