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biocombustíveis alta no preço dos alimentos
2008-06-25

O bioetanol E85 se tornou um sucesso na Suíça. Mais de três mil carros já estão utilizando o combustível ecológico fabricado à base de lascas de madeira. Porém enquanto a demanda cresceu fortemente nos últimos dois anos, a questão é saber se o bioetanol é tão ecológico como se diz. A imagem dos biocombustíveis já foi melhor. O aumento global dos preços dos alimentos tornou essa alternativa à gasolina um dos fatores responsáveis pela crise mundial da alimentação e tirou-lhe o brilho. Porém os biocombustíveis continuam a ser produzidos, mesmo na Suíça.

Na segunda-feira (23 de junho), representantes do setor garantiram durante uma reunião em Winterthur, que o bioetanol helvético não é responsável pelo encarecimento dos alimentos. Justificativa: o combustível é fabricado somente com lascas de madeira da Suíça. O selo oficial de garantia foi dado no ano passado pelo Instituto Federal de Análise de Material (Empa, na sigla em alemão). Com ele fica atestado que o bioetanol helvético tem um balanço positivo para o meio-ambiente, ao contrário do combustível feito à base de milho.

Segundo uma lista preparada pelo Clube do Automóvel Suíço (VCS), que há 25 anos avalia o caráter "ecológico" de veículos, carros com motores flex - nos quais podem ser utilizados bioetanol e gasolina sem adição de chumbo - recebem notas melhores do que os híbridos.

Boa variação
O representante do Ministério da Energia também apóia a produção local. "A Suíça é bem restritiva na questão do biocombustível", afirma Martin Pulfer. "Não teremos aqui combustíveis feitos à base de milho. O bioetanol feito de lascas de madeira é uma boa variante, do ponto de vista ecológico". Também representantes do setor produtivo deram sua opinião. Para Heinz Hänni, da Federação Suíça dos Agricultores, a produção de alimentos deve ser garantida em primeiro lugar. Porém ele defende liberdade de ação para os agricultores, caso o setor se torne lucrativo.

O balanço foi realizado em Winterthur, cidade localizada ao norte de Zurique onde há dois anos surgiu o primeiro posto de biocombustíveis. O bioetanol era praticamente desconhecido no país. Hoje em dia, já são 38 bombas, que suprem aproximadamente três mil veículos com uma mistura de 85% de etanol e 15% de gasolina. A mistura é realizada, pois o etanol não é bom para partida à frio.

Apesar de proprietários de postos de gasolina, fabricantes de automóveis e clientes terem, desde o início, interesse no combustível alternativo, o governo suíço precisou dar os primeiros passos no setor. Para reduzir as emissões de CO2, o Ministério das Finanças criou em 2005 um programa de incentivos. Desde então, lascas de madeira são transformadas em álcool pela Alcosuisse em Attisholz (cantão de Solothurn, oeste da Suíça).

Incentivo
A Suécia, um dos países mais avançados na produção de etanol, planeja reduzir drasticamente a dependência de petróleo até 2020. Depois do início lento, o programa prevê que um em dois postos do país tenha biocombustível para oferecer. O governo oferece descontos fiscais e estacionamento gratuito para as pessoas que trocam de carro. A indústria automobilística também apóia o programa: não é coincidência que os fabricantes Saab e Volvo estejam na liderança mundial da produção de veículos com motor flex.

A Suíça também oferece incentivos. A partir de 1° de julho, o bioetanol está livre de taxas de óleo mineral. Com isso o etanol pode ser tornar uma interessante alternativa para o mercado, levando-se em conta que o litro custa atualmente 1,55 francos por litro. O único problem é que o consumo aumenta, ao mesmo tempo, entre 20 e 30%.

Em 2006, aproximadamente cinco milhões de toneladas de combustível foram consumidas no país. Com uma percentagem de apenas 0,3% da soma total, o bioetanol tem uma importância apenas marginal no consumo helvético. Seus defensores acreditam, porém, que ele tem um futuro reluzente pela frente. "Não existe uma solução milagrosa para o problema da escassez energética", declara Felix Stockar, diretor do Grupo de Interesse do Bioetanol. "Ele ainda contribuiu para reduzir a emissão de CO2 na atmosfera, a prolongar nossas reservas de petróleo, a incentivar a economia legal e reduzir a dependência das importações.

As sobras de madeira na Suíça ainda são suficientes para suprir mais nove mil veículos com bioetanol. O setor ainda sonha com mais: na Europa do leste existem grande quantidades de terras para agricultura que não estão sendo utilizadas.

Críticas
"Em uma quantidade limitada, o bioetanol pode ser uma boa solução. Porém criar uma indústria que necessita levar o combustível do Brasil para a Suíça é contraditório à proteção do meio-ambiente", analisa Clément Tolusso, porta-voz do Greenpeace Suíça.

"A princípio nos opomos aos agrocombustíveis, pois eles não resolvem fundamentalmente o problema da mobilidade ou do uso privado de carros. A lógica diz que se temos um problema de escassez de combustível, é melhor procurar uma solução na fonte, ou seja, refletir sobre nosso modo de viajar ou dos veículos que utilizamos".

(swissinfo com agências, 24/06/2008)


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