Segundo o ministro, área desmatada deve chegar a 14 mil km2. Em debate com jornalistas e público, Carlos Minc defendeu o processo de licenciamento de Santo Antônio, o consumo ambientalmente consciente e criticou o modelo econômico predatório na Amazônia
O desmatamento na Amazônia deve chegar a cerca de 14 mil km2, segundo o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc. Para ele, todos os indícios apontam para um crescimento acima da média. "Acho muito difícil esse ano fechar com menos de 14 mil km2, uma média 30% maior que o ano anterior", disse. As declarações foram feitas ontem (23) em entrevista a jornalistas e ao público, promovida pelo jornal Folha de S. Paulo.
Segundo o ministro, não há evidências de que seja possível baixar os índices este ano, e a tendência é que eles aumentem. Minc ainda argumentou que se o Ministério do Meio Ambiente não estivesse combatendo o desmatamento com medidas como as operações Arco de Fogo e Arco Verde, a quantidade de florestas desmatadas poderia ser ainda maior, chegando a 20 mil km2.
O ministro defendeu o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que vem sendo atacado por governadores de estados das Amazônia, como Mato Grosso e Rondônia, por ter supostamente errado nos índices de desmatamento. Para Minc, os índices não estão errados. "Não devemos brigar com o termômetro que indica a febre, mas com a causa da febre", disse, numa analogia ao desmatamento.
Questionado se a conservação ambiental não entra em conflito com o agronegócio, tirando emprego da população mais pobre, o ministro sugeriu uma mudança no modelo econômico. "Nossa guerra é contra o modelo predatório. O mesmo modelo que destrói a biodiversidade é o que empobrece o povo", disse.
LicenciamentosMinc espera mais eficiência na concessão de licenças ambientais, que segundo ele não deve ser um entrave aos empreendimentos. "O licenciamento pode ser mais eficiente, mais ágil e mais rigoroso", explicou, argumentando que nem sempre o fato de uma licença ser demorada significa que será rigorosa, e que se pode agilizar diminuindo a burocracia.
Para o ministro, nem todas as licenças serão dadas, e elas devem ter uma contrapartida, sendo usadas como moeda de troca para a aprovação de Parques Ambientais e Unidades de Conservação. "O que for 'não', é não. O que for 'sim', será assumido a partir de condições". Minc explicou que pretende construir, com as Unidades de Conservação, uma "muralha verde contra a destruição" na região do arco do desmatamento.
O ministro defendeu o processo de licenciamento da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, como "equacionado tecnicamente". O processo de licenciamento de Santo Antônio está sendo criticado por ambientalistas e pela sociedade civil por não prever impactos socioambientais na região. "Nós vamos licenciar Santo Antônio em julho. Não há problemas insuperáveis, intransponíveis, para Santo Antônio", disse o ministro, que fez questão de argumentar que não dirá sim para todas as licenças. "A algumas licenças diremos não", disse. Questionado se licenciaria a usina hidrelétrica de Belo Monte, entretanto, respondeu que sim.
ONGs na AmazôniaAo ser questionado se a existência de organizações não-governamentais (ONGs) na Amazônia poderia atentar à soberania do país, Carlos Minc disse que as ONGs cumprem um papel importante. "A eco-picaretagem existe, mas é preciso separar o joio do trigo", disse, citando entre as organizações que, segundo ele, fazem um bom trabalho, o WWF, o Greenpeace e a Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.
O ministro acredita que estigmatizar as ONGs é ruim para a cidadania. "Essa questão é ideologizada pelas pessoas que assassinaram a irmã Dorothy Stang, Chico Mendes, pessoas que se sentem incomodadas pelos ambientalistas", explicou.
Entretanto, ele acredita que existe muita ilegalidade em ONGs e que em breve serão mostradas irregularidades sobre a organização do sueco Johan Eliasch, que está sendo acusada de vender a Amazônia. "No caso dessa ONG, não é só fumaça".
Minc também defendeu o Fundo Amazônia. Por esse fundo, o governo da Noruega doará US$ 100 milhões para a conservação da Amazônia. "Esse fundo é autônomo, pois os países doadores não têm assento no Conselho, e o órgão que executa as ações é o BNDES [Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social]", disse. Segundo ele, o Conselho é composto pelos governos federal e de estados da Amazônia, além de ONGs e pesquisadores, e tem como objetivo baixar a média histórica do desmatamento.
ConsumoO ministro ressaltou a importancia do consumo responsável e a prática da reciclagem, e disse que no Brasil os consumidores ainda não estão muito bem organizados para cobrar de empresas práticas ambientalmente corretas. Para ele, no entanto, o Estado deve dar o exemplo. "Nós temos que praticar na administração pública as boas práticas ambientais", explicou, relatando um compromisso que será assinado com as empresas de São Paulo para que elas não comprem produtos provenientes de desmatamento da Amazônia.
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Amazonia.org.br, 24/06/2008)