O presidente da União da Agroindústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, afirmou ontem que o momento atual é o ideal para uma aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos, "para tentar implementar uma política de complementariedade na questão do álcool". Ele disse que esta questão está sendo discutida, em razão da pressão de preços do petróleo e do milho, após a quebra de safra do cereal provocada pelas fortes chuvas que caíram nas regiões produtoras dos Estados Unidos.
A conjuntura atual poderia facilitar um diálogo, já que a Unica estuda a possibilidade de pedir a abertura de um painel na Organização Mundial de Comércio (OMC) contra as tarifas impostas sobre o álcool brasileiro no mercado norte-americano. Ele afirmou que não há na Unica uma decisão final e lembrou que as discussões a respeito desta possibilidade surgiram quando o Congresso norte-americano aprovou a nova política agrícola, a Farm Bill, que manteve a tarifa de US$ 0,54 por galão para a importação de etanol e a estendeu por mais um ano. "Começamos a estudar o painel a partir deste momento e já temos advogados contratados analisando o assunto. De qualquer forma acredito que ainda exista caminho para o diálogo, já que o painel é sempre problemático", disse ele.
Diante da situação atual, diz ele, poderiam ser estudas alternativas entre o Brasil e os Estados Unidos, como cortes temporários na tarifa, a criação de um sistema de cotas, ou mesmo uma espécie de tarifa móvel, que variasse de acordo com os preços internacionais do milho. Jank afirmou que a relação entre dois países é crucial para a criação de um mercado global, pois juntos representam 75% da produção mundial de etanol.
Ele ressaltou, no entanto, que o Brasil continuará a defender uma abertura do mercado de alguns países, inclusive dos Estados Unidos. "Nós entendemos que o subsídio dado aos produtores norte-americanos de milho se justifica, em virtude da preocupação do governo com a segurança energética, mas não precisamos conviver com as tarifas impostas ao etanol brasileiro", disse ele.
O presidente da Unica disse que se as tarifas fossem menores, o Brasil poderia suprir o mercado norte-americano de etanol no curto prazo, podendo ajudar contra a pressão que existe sobre os preços do petróleo e do milho. Ele lembrou que os Estados Unidos são o maior mercado para etanol do mundo e que até o ano de 2020 deverá consumir 140 bilhões de litros. Atualmente, o Brasil exporta para os Estados Unidos 1,6 bilhão de litros, que chega até aquele mercado por meio de países do Caribe.
(Por Alexandre Inacio,
Agencia Estado, 23/06/2008)