Haverá guerra pela água entre os moradores do sul do Espírito Santo e as transnacionais Baosteel e Vale. A afirmação é do diretor do Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), Bruno Fernandes da Silva. Ele denunciou que "estudos" sobre a água na região foram realizados em conluio pelo governo Paulo Hartung e o empresariado. A produção foi da Cepemar.
O ambientalista se reportou à decisão do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Benevente (CBH-Benevente), que em reunião na quinta-feira (19), rejeitou a instalação da Companhia Siderúrgica Vitória (CSV), a empresa que a Baosteel e Vale vão implantar na região.
Afirmou que "a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), o estudo apresentado, foi doado pelas indústrias, através da ONG 'Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação', que congrega a Aracruz Celulose, ArcelorMittal, Cepemar (consultoria Ambiental), Instituto Futura (pesquisas), Rede Gazeta, Rede Tribuna, Samarco, Vale (antiga CVRD), entre outras empresas concentradoras de riqueza".
E que "a partir de agora vocês podem compreender porque A Gazeta e A Tribuna estão mostrando apenas o que é do interesse das grandes empresas e do governo Paulo Hartung. Esta parceria impede que os cidadãos do Espírito Santo recebam as informações do que está acontecendo. São as multinacionais que formam sua opinião".
Para Bruno Fernandes da Silva, as empresas Cepemar e Futura não deviam ter elaborado tal estudo. Diz: "Um estudo desta envergadura deveria ser elaborado por uma universidade pública, que realizaria um trabalho imparcial".
O ambientalista lembra que o CBH-Benevente tem, entre as competências, a de "arbitrar os conflitos relacionados aos recursos hídricos da bacia", de acordo com a Lei Federal n° 9.433. Tal competência foi cumprida após apresentação superficial a respeito da Avaliação Ambiental Estratégica dos impactos das Indústrias na região da Bacia do Rio Benevente.
Afirma que "na reunião, o que deixou os membros do Comitê perplexos foi a localização do Pólo Industrial e de Serviço de Anchieta (Pisa), que é totalmente às margens do rio Benevente. Sem água, a Baosteel não consegue produzir".
E ainda que "a elaboração da apresentação foi produzido pelo órgão do governo estadual, a Agência de Desenvolvimentos em Rede do Espírito Santo (Aderes). Os membros do comitê ficaram decepcionados, pois imaginavam que o órgão ambiental do Estado, o Iema, que integra o grupo temático água do estudo, tivesse todas as informações a respeito de recursos hídricos e seus impactos. A apresentação foi feita pelo presidente do Comitê".
O ambientalista lembra ainda que "na China, a Baosteel, maior produtora de aço do país, vai crescer pouco". A razão para tal crescimento limitado decorre de que "na China, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o principal órgão de planejamento econômico do país, assinou contratos para eliminar 49,31 milhões de toneladas de capacidade obsoleta de fundição de ferro e aço. Isso envolverá 573 empresas, entre elas a Baosteel".
A providência adotada na China decorre de pressão da Organização das Nações Unidas (ONU), pois o país assume a liderança mundial em emissões de poluentes. Então, o governo chinês "elaborou uma estratégia para torná-la ambientalmente amigável: uma das suas metas é reduzir seu consumo de energia até 20% até 2010, sem que isso afete seu desenvolvimento. Na prática, isto significa exportar a poluição para países como o Brasil!".
Assinala que "no Brasil a Baosteel e terceirizadas não precisam de metas para o consumo de energia e as questões ambientais são tratadas pelos governantes, especialmente no Espírito Santo, como impedimento do 'desenvolvimento', apesar da ONU deixar bem claro que proteção ambiental significa qualidade de vida".
Bruno Fernandes da Silva finaliza afirmando que os moradores do sul do Espírito Santo vão travar guerra pela água com a Baosteel, Vale e o governo Paulo Hartung, que apóia os projetos industriais das empresas. O ambientalista é membro do CBH-Benevente.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 24/06/2008)