Após estudo da Força Aérea dos EUA apontar falhas nos depósitos americanos de armas nucleares na Europa, social-democratas e oposição em Berlim exigem completa retirada de armas atômicas norte-americanas da Alemanha. "Armas nucleares na Alemanha são resquícios da Guerra Fria e têm que ir embora", afirmou o presidente do Partido Liberal (FDP), Guido Westerwelle, na edição desta segunda-feira (23/06) do diário Berliner Zeitung.
A razão da exigência de Westerwelle é um estudo encomendado pelas Forças Aéreas dos Estados Unidos e publicado pela Federação de Cientistas Americanos (FAS). Segundo o estudo, a maioria dos depósitos norte-americanos de armas nucleares na Europa não corresponde a padrões mínimos de segurança estabelecidos pelo Pentágono.
A Base Aérea de Büchel, no Oeste Alemão, seria um dos arsenais em que foram constatados problemas. Políticos social-democratas e dos partidos da oposição alemã exigem agora a completa retirada dos arsenais nucleares norte-americanos do país.
Conseqüência do relatório
O estudo divulgado pela FAS foi encomendado pelas Forças Aéreas norte-americana depois que, em agosto de 2007, uma avião transportou seis ogivas nucleares através dos Estados Unidos sem que o comando das Forças Aéreas tivesse sido informado. A FAS estima que os americanos possuam de 200 a 350 bombas atômicas na Europa. Segundo a revista alemã Focus, dez a vinte bombas deste arsenal estariam armazenadas em Büchel.
Na Europa, fora da Alemanha, os Estados Unidos possuem arsenais nucleares espalhados pela Bélgica, Reino Unido, Itália, Países Baixos e Turquia. Como primeira conseqüência do relatório, explicam os cientistas, os EUA planejam concentrar suas armas atômicas em um número menor de depósitos na Europa.
Entre os pontos falhos apontados pelos cientistas estão problemas com o sistema de segurança, a vedação e a estabilidade dos edifícios. Em um dos casos, soldados em serviço militar obrigatório teriam sido escalados, após somente nove meses de treinamento, para proteger as armas contra roubo.
Transformação em sucata
"Se existem riscos de segurança, esta é mais uma razão para que se retirem todas as armas atômicas táticas existentes ainda na Alemanha", comentou Westerwelle, acrescentando que o governo em Berlim deveria procurar rapidamente uma solução juntamente com os Estados Unidos. Segundo o político liberal, a retirada também poderia ser um sinal de novos esforços de desarmamento na Europa. Críticas também partiram de políticos do Partido Verde e da Esquerda.
Além da remoção de todas as armas nucleares, o vice-líder da bancada dos Verdes, Jürgen Trittin, exige que as Forças Armadas Alemãs retirem seu compromisso de participar de uma eventual guerra nuclear ao lado da Otan.
O chefe da bancada do partido A Esquerda, Gregor Gysi, é da opinião de que o governo alemão deveria exigir dos Estados Unidos a imediata retirada dos arsenais nucleares e, se possível, sua transformação em sucata. A Alemanha e a Europa estariam assim em segurança. Segundo Gysi, as falhas nos depósitos de bombas atômicas demonstram que "com armas nucleares não existe segurança".
Avanço do desarmamento nuclear
Já entre os partidos que compõem o governo de grande coalizão na Alemanha, as opiniões se dividem. O deputado Niels Annen, especialista em relações internacionais do Partido Social Democrata (SPD), afirmou que a retirada seria um grande passo no avanço do desarmamento nuclear.
Quanto ao tema, os partidos conservadores que também formam a grande coalizão se mostraram bastante reticentes. Eckart Von Klaeden, porta-voz de política de relações exteriores da bancada conservadora, afirmou que as armas teriam que ser armazenadas, naturalmente, segundo os mais elevados padrões de segurança. Em entrevista ao Berliner Zeitung, o porta-voz acresceu, no entanto, que "enquanto houver armas nucleares no mundo, nós não podemos dispensá-las. Elas também nos protegem".
(Deutsche Welle, 23/06/2008)