Tom Daschle, co-presidente do comitê do provável candidato democrata --Barack Obama--, trabalha para três companhias norte-americanas de etanol em seu escritório de advocacia em Washington, onde "provê conselhos estratégicos para seus clientes por meio da energia renovável", segundo reportagem do jornal norte-americano "New York Times". Daschle, que também é ex-líder da maioria democrata no Senado, acompanhou Obama em suas viagens para o interior do país.
Segundo Obama, apoiar a fabricação de etanol "ajuda a segurança nacional, porque atualmente os EUA enviam bilhões de dólares para as nações mais hostis do mundo". A dependência em fontes energéticas "torna mais difícil desenhar uma política externa inteligente, com segurança em longo prazo". Obama, que apóia os subsídios norte-americanos às plantações de milho destinadas à fabricação de etanol, diverge completamente de seu rival republicano, o provável candidato John McCain, que defende o fim dos subsídios e a implantação do livre-comércio com o etanol estrangeiro.
O conselheiro de Obama em questões energéticas e ambientais, Jason Grumet, participou da campanha da Comissão Nacional em Política Energética, uma iniciativa bipartidária coordenara por Daschle e Bob Dole, um republicano do Kansas que também é ex-líder da maioria no Senado e um grande aliado às políticas para a fabricação de etanol. Logo após se tornar senador por Illinois, Obama provocou uma controvérsia ao apoiar taxas de subsídio a aviões corporativos, incluindo duas doações a aeronaves de Archer Daniels Midland, o maior produtor de etanol dos EUA, também de Illinois.
O diretor de Política do comitê de Obama, Jason Furman, afirmou que as visões do senador democrata em etanol são baseadas em sua própria opinião. Quando questionado se Obama favoreceria a política pró-etanol por vir de Illinois, um Estado rico em produção de milho, Furman respondeu: "Ele quer representar os Estados Unidos da América, e suas políticas são baseadas no que é melhor para o país".
Oposição
Ambos os prováveis candidatos à Casa Branca enfatizam a necessidade da independência energética para os EUA e a diminuição das emissões de carbono que contribuem para o aquecimento global, mas eles oferecem visões opostas sobre o papel do etanol nesse processo. McCain apóia o fim dos subsídios multibilionários anuais distribuídos do governo para o setor. Como defensor do livre-comércio, McCain também se opõe à tarifa de 54% por galão que os EUA impõem para a importação de etanol feito da cana-de-açúcar, o que é mais barato e gera mais energia do que o produzido do milho.
Obama, ao contrário, é a favor dos subsídios. Em nome de ajudar os EUA a ser independente na questão energética, ele apóia a ajuda federal aos produtores de milho, o que alguns economistas dizem que pode ser considerada ilegal pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O etanol do milho gera menos de duas unidades de energia para cada unidade que consome. No caso da cana, a proporção é superior a oito para um. Com menores custos de produção, a cana é uma fonte mais eficiente.
Durante a campanha política, Obama não expôs a sua oposição ao etanol de cana-de-açúcar importado. Mas em comentários no ano passado, feitos quando o presidente George W. Bush estava prestes a assinar um acordo de cooperação com o Brasil, Obama afirmou que "o caminho para a independência energética dos EUA" poderia sofrer se Bush não estabelecesse restrições para a entrada de etanol de outros países. "Substituir o petróleo importado pelo etanol brasileiro não serve para a nossa segurança nacional e econômica", afirmou Obama.
(Folha Online, 23/06/2008)