O Chile deu início na segunda-feira ao encontro anual da Comissão Baleeira Internacional (IWC) com a criação oficial de um santuário para proteger esses animais em suas águas, um reflexo da voz latino-americana contrária à caça dos mamíferos marinhos e em favor da exploração turística deles.
Cerca de 500 delegados de mais ou menos 80 países membros da IWC (na sigla em inglês) iniciaram o evento de uma semana a ser realizado na capital chilena, enquanto do lado de fora do prédio um grupo de estudantes, entre os quais crianças, e de ativistas do Greenpeace protestava contra a matança das baleias.
No total, 15 pessoas foram detidas na manifestação, disse a polícia. Ainda que exista desde 1986 uma moratória em torno da caça desses animais, o Japão, a Noruega e a Islândia matam baleias para "fins de pesquisa", uma possibilidade criada pelo IWC mas rechaçada pelos grupos ambientalistas, segundo os quais a prática acoberta a interesses comerciais.
O ministro chileno das Relações Exteriores, Alejandro Foxley, abriu a reunião -- fundamental para definir não apenas o futuro das baleias mas da própria IWC -- pouco antes de a presidente do país, Michelle Bachelet, visitar o ex-porto baleeiro de Quintay. Nesse local, a dirigente assinou um projeto de lei criando nas águas territoriais do Chile um santuário no qual está proibida a pesca de baleia. "Escolhemos este lugar (para assinar o projeto) porque representa o passado. E o que estamos fazendo hoje em dia mira o futuro", disse Bachelet.
"O Chile quer dar ao mundo um sinal claro e contundente de sua vontade de proteger as baleias em suas águas", acrescentou a líder chilena, que assinou um projeto proibindo em caráter permanente a captura e a caça de baleias e um outro decreto que faz dos cetáceos um monumento da natureza.
O Japão deseja retomar a caça sustentável de baleias, algo que provocou tensão dentro da IWC, onde há um equilíbrio de forças. "A busca de decisões e recomendações com base no consenso é o primeiro passo rumo a um maior entendimento. Cada vez que for possível, deve-se trilhar esse caminho, esgotando todas as possibilidades antes de submeter um assunto à votação", disse Foxley.
Prevê-se que nesta semana o IWC discuta a criação de um grande santuário baleeiro no Atlântico Sul, uma iniciativa liderada pelo Brasil e pela Argentina e que obteve até agora uma apoio de 75 por cento nas votações da entidade. A América Latina possui uma presença cada vez maior na IWC. O mesmo se deu com o negócio do beneficiamento de baleias, que ajuda muitas comunidades de praias espalhadas do México à Argentina.
Os ambientalistas desejam proibir a caça em definitivo. "Não queremos que a comissão discuta quantas baleias será permitido caçar, mas sim como protegê-las. As mudanças climáticas, a poluição e muitos outros problemas afetam as baleias de uma maneira muito grave", disse a jornalistas Milko Schvartzmann, coordenador da campanha de proteção às baleias junto ao Greenpeace. No ano passado, o Japão ameaçou abandonar a entidade quando os países-membros dela vetaram uma proposta para autorizar quatro pequenas comunidades do território japonês a caçarem baleias mink.
(Por Rodrigo Martínez, com reportagem adicional de Simon Gardner e Bianca Frigiani, REUTERS, Estadão, 23/06/2008)