Até poucos dias antes do Natal de 2006, elas não tinham onde morar, e marchavam pelo Estado manifestando o desejo de conseguir um lugar para viver. Hoje, este lugar existe, e do seu chão, brotarão produtos que farão bem para quem os planta e, especialmente, para quem os consome.
Durante um ano e meio, 70 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) acamparam às margens da BR-116, na entrada da Fazenda São Roque, localidade de Águas Sulfurosas, em Correia Pinto, na Serra Catarinense. Elas aguardavam a desapropriação do local, considerado improdutivo pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Com o pedido acatado pela Justiça Federal, no fim de dezembro de 2006, elas conquistaram a posse da área, superior a 1,2 mil hectares e batizada de Assentamento Pátria Livre, e logo em seguida começaram a trabalhar.
Primeiro, elaboraram o Plano de Desenvolvimento de Assentamento (PDA), uma espécie de Plano Diretor. Concluído o PDA, há cerca de dois meses, passaram a utilizar a terra para sustento e fonte de renda.
Idéia é plantar tudo que seja compatível com solo
A idéia é plantar tudo o que for compatível com o solo e o clima do local, utilizando o mínimo e, se possível, nada de produtos químicos, inclusive no tratamento de animais. Para isso, contam com o apoio de universidades, órgãos públicos e entidades. Até um grupo de agroecologia foi constituído dentro do assentamento para auxiliar nas ações.
As produções foram planejadas em três etapas: a curto, médio e longo prazo. Na primeira, entram alimentos que podem ser plantados e colhidos no mesmo ano, como alface, rúcula, couve, repolho, feijão de vagem, ervilha, pepino, beterraba, abóbora, mandioca, batata, melão e melancia.
A médio prazo - três ou quatro anos - , a proposta é a produção de leite e queijo, como ocorre, respectivamente, nos assentamentos de São Miguel do Oeste e Campos Novos. Para isso, as famílias estão se preparando para fazer as pastagens, construir as estrebarias e adquirir as vacas e os resfriadores de leite.
Ainda a médio prazo, estão incluídos os projetos de piscicultura e apicultura.
E a longo prazo, com os resultados esperados para a próxima década, está o reflorestamento da área com plantas nativas. As sementes e as orientações são obtidas em parceria com a Epagri e a Udesc. Está previsto também o cultivo de árvores frutíferas, como parreiras, já que alguns assentados sabem fazer geléia e, com treinamento adequado, poderão produzir vinhos e champanhas.
(Por Pablo Gomes e Correia Pinto, Diário Catarinense, 23/06/2008)