O cacique da aldeia Laranjeiras, Adriano Morinico, 32 anos, vê o mapa com a demarcação proposta pela Funai para a reserva Morro Alto, em São Francisco do Sul, e se decepciona. "É muito pouco. A reserva é o único jeito de garantir o que é nosso. De tudo que tínhamos, tem de sobrar um pedacinho. Para não ter como ninguém nos mandar embora."
Morinico tem quatro filhos e nasceu nas proximidades de Florianópolis. Tem o olhar desconfiado de nascença, mas também de quem comanda uma aldeia de 90 pessoas, cercada por não-indígenas. Apesar de, na lembrança dele, os dois mundos nunca terem entrado em conflito.
Ele afirma que Laranjeiras tem cerca de 15 anos. O habitante mais velho é o tio-avô dele, de "80 e poucos anos", nascido em Chapecó. Na aldeia, há cultivo principalmente de milho. Um tanque de peixes instalado pela Epagri "não deu certo", conta. O mato tomou conta. Morinico diz que tudo que os índios conseguem é no grito. "Temos que batalhar por saúde, território e educação. Queira ou não, o Estado tem de nos dar o que precisamos." Na aldeia, há uma escola estadual, com aulas em guarani e português.
Irmão do cacique da aldeia Conquista, Vanderlei da Silva, 25 anos, é professor da escola da sua aldeia, em Balneário Barra do Sul. Lá se criam galinhas e patos e vivem 32 pessoas, a maioria crianças. O guarani é a língua do dia-a-dia, até para os meninos jogarem futebol. "Falta casa melhor. O padre nos doa um pouco, mas falta casa para cozinhar", conta.
O cultivo de milho nativo e banana rende pouco. As mulheres vendem artesanato na cidade. Silva é de Ibirama e está há cerca de sete anos em Barra do Sul. Com a reserva, diz que os índios terão mais segurança para cultivar.
(A Notícia, 22/06/2008)