São muitas as opiniões preconceituosas em relação aos guaranis, diz a antropóloga Maria Janete Albuquerque de Carvalho, da Fundação Nacional do Índio (Funai). O argumento de que os guaranis são novos na região, por exemplo.
"A tribo tem uma estratégia de invisibilidade. Eles vivem em área de mata, são reservados. Só se tornaram visíveis depois que o desmatamento da mata Atlântica reduziu as florestas." Ela coordenou o trabalho da equipe que passou 75 dias entrevistando os índios de Araquari, Balneário Barra do Sul e São Francisco.
A antropóloga lembra que a presença dos guaranis na faixa litorânea que vai da Argentina até São Paulo é anterior à colonização. Por isso, sustenta que os guaranis - não importa o local de nascimento - partilham a mesma história e habitam o mesmo território há mais de cinco séculos. E, apesar de terem uma cultura de constantes migrações, mantêm vivos os laços de parentesco. "A família guarani é grande. Todos os parentes se visitam e o número de moradores das aldeias muda muito", acrescenta.
A Funai se baseou no estudo de campo para definir a área de cada uma das reservas. Segundo a pesquisadora, leis federais - entre elas, a Constituição - dão aos indígenas o direito de apontar o tamanho do território necessário para que possam viver conforme a sua cultura.
Além disso, as comunidades do entorno, a pouca área de mata da região e uma previsão futura de expansão das tribos pesaram no cálculo. "Os próprios índios disseram que não querem conflitos com os seus vizinhos", afirma.
(A Notícia, 22/06/2008)