As cenas do ataque de pistoleiros que provocou ferimentos a bala em 10 índios na Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, em Roraima, foram divulgadas na sexta-feira (20/06). O vídeo que registra o episódio ocorrido no último dia 5 de maio, captado por integrantes do Conselho Indígena de Roraima (CIR), pode ser visto no site da Survival International.
Há três semanas, a Survival divulgou fotos de indígenas isolados que foram encontrados no Estado do Acre, próximo da fronteira entre o Brasil e o Peru. "Depois daquelas imagens, algumas pessoas declararam que os indígenas deveriam ser encorajados a se aproximar da ´sociedade´. Esse vídeo extraordinário [de Roraima] mostra o que eles podem esperar da ´sociedade´ - violência incessante caso eles tentem simplesmente viver nos seus próprios territórios em paz", comenta o diretor da entidade, Stephen Corry.
Por causa do ato criminoso de agressão com bombas caseiras e armas de fogo contra um grupo de cerca de 100 indígenas, que estavam acampados na área da comunidade Renascer, Paulo César Quartiero, arrozeiro e prefeito de Pacaraima (DEM), seu filho Renato e outros seis funcionários da Fazenda Depósito foram presos em flagrante por posse ilegal de artefato explosivo e formação de quadrilha. A Polícia Federal (PF) encontrou na propriedade 149 tubos com material explosivo e sete equipamentos de fabricação caseira de bombas, além de outros aparelhos que podem ser utilizados como armas.
Por decisão da desembargadora Assuzete Magalhães, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, proferida no dia 14 de maio, Quartiero e os outro sete envolvidos ganharam a liberdade provisória, depois de ficarem encarcerados na Superintendência da PF em Brasília.
Representantes dos povos da TI Raposa Serra do Sol, Jacir José de Souza (Macuxi) e Pierlângela Nascimento da Cunha (Wapixana), estão na Europa para pedir apoio internacional para a garantia dos territórios tradicionais aos indígenas. A Raposa Serra do Sol foi homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005. Contestações na Justiça, no entanto, acabaram levando a questão para a corte maior do país. O julgamento sobre o caso está previsto para o início de agosto no Supremo Tribunal Federal (STF).
Convocada em caráter extraordinário, a Assembléia dos Povos Indígenas de Roraima se reuniu de 10 a 13 de junho para fortalecer a Campanha “Anna Pata Anna Yan” (Nossa Terra é nossa Mãe). Na carta destinada a autoridades, eles definem a questão da Raposa Serra do Sol como "relevante para todos os povos indígenas de Roraima e do Brasil, fundamental para a consolidação dos Direitos Humanos". A decisão do STF pela demarcação em área contínua é, para os índios, importante "para garantir e fortalecer a sobrevivência física e cultural dos povos indígenas".
"Hoje somamos 19.025 (dezenove mil e vinte cinco) populações indígenas daqui a alguns anos seremos mais, e a terra continuará a mesma. Durante trinta anos a terra foi estudada e analisada passando por todos os processos legais e judiciais", salienta o documento final do encontro dos Povos Macuxis, Ingaricós, Taurepangues, Patamonas e Wapixanas. Os indígenas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol afirmam que ainda sofrem e vivem sob ameaças, ataques, tentativa de homicídios, intranqüilidades com sons em altos volumes, trânsito de motoqueiros alcoolizados e pistoleiros armados.
Para Stephen, da Survival, ˜essa é uma batalha absolutamente crucial para os indígenas brasileiros e para a Amazônia". "Se os fazendeiros e os políticos conseguirem roubar a Raposa Serra do Sol, índios de todo o Brasil poderão perder suas terras também. Não podemos deixar que isso aconteça".
(Repórter Brasil, 23/06/2008)