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consumo sustentável/consciente
2008-06-23
Que razões levam as pessoas a gastar mais do que ganham? Por que compramos coisas que não nos serão úteis? Por que agimos por impulso na hora em que devíamos decidir com a razão? Afinal, por que temos dificuldade em ser consumidores conscientes?

O Instuto Akatu entrevistou a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, especialista em psicologia do consumo e professora do curso extensão de Psicanálise e Psicologia Econômica, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), para tentar esclarecer um poucos os dilemas e angústias dos indivíduos na sociedade do consumo.

A professora trabalha com o tema de tomada de decisões nos âmbitos econômicos por dentro – ou seja, procura destrinchar como a nossa mente opera ao ter que fazer uma escolha entre diversas alternativas. Confira alguns trechos da conversa com a especialista.

Quais as razões psicológicas que levam as pessoas a comprar por impulso?
Numa sociedade voltada para o consumo, o prazer imediato é buscado de maneira incessante. Muitas vezes a realidade é frustrante e as pessoas acreditam que ao comprar um celular de terceira geração, vão encontrar a felicidade. Ao não encontrar a felicidade nas compras, vem uma frustração ainda maior. Para piorar, o endividamento desse indivíduo vai trazer mais angústias, criando um círculo vicioso.

Como é possível atingir o equilíbrio entre prazer e realidade?
É exatamente aí, nesse equilíbrio, que reside o grande desafio. Esse é o foco, é o eixo do trabalho da psicologia econômica: colocar o indivíduo em equilíbrio com a realidade de sua vida. Todo mundo tem aversão ao sentimento de frustração, de perda e de finitude, que bem ou mal é o destino de todo ser humano. Sempre há uma carência interna difícil de escapar e alguns tentam resolver isso por meio de compras. As pessoas que são mais suscetíveis à compulsão, em geral, vivem uma angústia interna muito grande. Às vezes a pessoa pode ficar mais de uma hora em conflito se deve ou não comprar algo. Isso está muito longe de se transformar em felicidade. É preciso encontrar outras formas de lidar com a angústia.

E os apelos de consumo? A sedução da publicidade?
Vivemos numa sociedade que pode ser definida como infantilizada. Estamos todos infantilizados. A cultura do endividamento, do crédito, do consumo, apela para sentimentos infantis. A publicidade não precisa fazer tanta força para nos convencer. Nós queremos ser enganados. Mesmo que no fundo todos saibamos que os momentos de satisfação são provisórios. É o modelo de comportamento do bebê que chora de fome e, se o leite demora a vir, começa a chupar o dedo. Com isso ele "engana", durante algum tempo, o desconforto causado pela fome. A ação motora, nesse caso, tem o objetivo de "descarregar" a tensão, mas não obtém leite realmente. Essa medida tem prazo de validade, e o bebê acabará por abandoná-la por se mostrar infrutífera para matar sua fome de fato. Mas enquanto durar, ele poderá se enganar, e se manter na ilusão de que solucionou o problema, modificou a situação.

Qual o perfil das pessoas que resolvem esse conflito entre consumo x sustentabilidade?
É exatamente o sujeito que suporta, que agüenta estar em contato com a realidade. É aquele que tem noção de todo o processo, ou seja, a noção do quê os seus atos desencadeiam desde o momento que decide pela compra.

Quais são os principais conselhos para que uma pessoa adote comportamentos mais equilibrados nas suas relações de consumo?

Vai ser preciso abrir mão da satisfação imediata. Mas só se consegue fazer isso após realizar um processo de autoconhecimento que permita fazer mudanças e tomar decisões que contribuam para uma vida mais equilibrada, psicologicamente e economicamente falando.
 
(Clicrbs, 20/06/2008)
 


 

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