Na palestra “Como o Planejamento Urbano Pode Ajudar a Minimizar os Efeitos do Aquecimento Global nas Cidades” especialistas dos EUA relatam políticas e campanhas em curso no país que incentivam o uso de energias alternativas, do transporte público e o aumento de áreas verdes nas grandes cidades, entre outras iniciativas de redução de emissões de gases de efeito estufa.
A palestra “Como o Planejamento Urbano Pode Ajudar a Minimizar os Efeitos do Aquecimento Global nas Cidades”, realizada no Instituto de Arquitetos do Brasil em São Paulo, na quarta-feira 18, reuniu um grande número de estudantes de arquitetura, urbanistas e outros interessados. Organizado pela Escola da Cidade, Movimento Nossa São Paulo, Instituto Socioambiental (ISA) e Consulado dos Estados Unidos em São Paulo, o evento trouxe para São Paulo a arquiteta Carla Chifos, professora da Escola de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Cincinnati, no estado de Ohio, que fez uma exposição sobre “Cidades Verdes, Não Poluídas e Não Aquecidas: A Nova Agenda para o Planejamento Urbano” e Glen Brand, diretor da Campanha “Cool Cities” da ONG Sierra Club, que expôs as ações que a campanha desenvolve nas cidades norte-americanas.
Para Carla Chifos, a questão do aquecimento global e das mudanças climáticas são urgentes em todo o mundo e as cidades, importantes fontes de emissão de gases de efeito estufa, são palcos fundamentais para ações que combatam o problema. Os sistemas de aquecimento e resfriamento de edifícios, o crescimento urbano disperso, no qual os locais de moradia e trabalho são cada vez mais distantes - o que estimula o uso do automóvel -, combinados com o padrão de uso do solo monofuncional – que não otimiza o uso das redes de infra-estrutura - são os principais motivos para as crescentes emissões nas cidades da maior potência econômica do planeta. Por isso, Carla considera necessárias ações para mitigar e adaptar as cidades às metas de redução de emissão de gases (estabelecidos a partir do protocolo de Quioto, tratado não assinado pelos EUA), o que coloca novos paradigmas para o planejamento urbano, para a arquitetura e implica em uma mudança de comportamento por parte dos habitantes das grandes cidades, ao mesmo tempo que promoveriam uma melhora geral de qualidade de vida urbana.
A especialista apresentou os exemplos das cidades de Cincinnati e Nova York. Em Cincinnati, Carla Chifos participou da elaboração de um plano feito em cada um dos bairros da cidade, com a participação voluntária de grupos organizados em equipes para tratar de temas como resíduos sólidos, transporte, segurança e uso do solo. O resultado foi o estabelecimento de ações e a definição da quantidade de emissão de gases que seriam reduzidos e os respectivos custos. O plano participativo envolveu vários atores, de cidadãos à especialistas e representantes municipais. A meta da cidade é reduzir em 10% a emissão de gases em 4 anos (2008-2012) com base nos índices do ano de 2000.
Em Nova York, a maior e mais densa cidade do país, o desafio de acordo com Carla Chifos foi tornar a cidade mais “verde” sem frear seu crescimento, aumentando o número de parques e demais áreas verdes, melhorando a rede de transporte público, implementando programas de incentivo para viagens a pé, otimizando infra-estruturas envelhecidas e planejando as áreas de risco. Além disso, a palestrante citou como exemplos para redução de emissão de gases de efeito estufa o uso de energias limpas e a construção de edifícios verdes (que otimizam o uso da energia solar, e utilizam o aquecimento e a iluminação natural com tecnologias alternativas). Foram criados certificações e incentivos como forma de estimular os edifícios que reduzem o uso de energia, sistemas de transporte multimodais e sustentáveis, ampliação significativa de áreas verdes - com plantações de árvores programadas conforme as estatísticas de crescimento populacional -, mudanças de zoneamento permitindo o uso misto e o adensamento do uso do solo, concentrando atividades em grandes edifícios, com áreas verdes entre eles – tudo isso para otimizar o uso de energia e contrapor o padrão de crescimento espraiado das cidades norte-americanos.
Glen Brand, por sua vez, apresentou a campanha “Cool Cities”, da Sierra Club, considerada a maior ONG conservacionista norte-americana. A campanha busca soluções para minimizar o aquecimento global e tem como base um contrato, assinado por vários prefeitos, no qual os gestores se comprometem a implementar ações para a redução de emissão de gases de efeito estufa em 80% até 2050. Cerca de 80 cidades já assinaram o documento. Entretanto, além de planos e da assinatura do contrato, segundo Brand, é necessário implementar as ações e monitorá-las freqüentemente. O ativista salientou também que a campanha da Sierra Club visa incentivar novas tecnologias que garantam o uso de energia limpa no mercado, e que a simples substituição de lâmpadas para modelos mais econômicos pode significar uma grande redução dos custos. Outro incentivo citado por ele foi o da redução nos impostos para quem substituir seus carros por modelos menores, mais eficientes e econômicos.
(Por Fernanda Blauth e Luciana Ferrara, ISA, 22/06/2008)