O Dia Mundial do Meio Ambiente de 2008 teve como tema central o lema “CO2: Abandone esse hábito!”, para catalisar as atividades da população em geral em relação ao desafio com o qual se defronta a atual geração: a mudança climática. É muito mais do que uma frase atraente e plena de sonoridade. Se desejamos que a economia mundial avance até se converter numa forma de desenvolvimento mais ecológica e mais limpa, o objetivo principal da resposta internacional deveria ser uma diminuição significativa do uso ineficaz dos combustíveis fósseis e um maior uso das energias renováveis.
Existem, também, contundentes argumentos em favor da transição para “uma economia pobre em carbono” que deixam cada vez mais claramente que esta realidade é mais uma grande oportunidade do que um problema.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado pelo PNUMA e pela Organização Meteorológica Mundial, concluiu que a consecução de uma economia mundial mais ecológica não poderia custar anualmente, durante os próximos 30 anos, nada mais do que alguns décimos do PIB mundial. Também seria a força impulsionadora da inovação, de novos negócios, novas indústrias e novas oportunidades de emprego, tanto no mundo industrializado quanto no mundo em desenvolvimento.
Já existem muitos sinais estimulantes. No início deste ano, o PNUMA criou a sua Rede de Clima Neutro (CN Net). Entre seus principais promotores e fundadores se encontram a Costa Rica, a Noruega e a Nova Zelândia, que é o anfitrião para as celebrações do Dia Mundial do Meio Ambiente de 2008.
Estes países, assim como um número cada vez maior de corporações e cidades estão demonstrando que a redução das emissões e a participação nos mercados de carbono produzem não somente benefícios ambientais, mas, também, sociais e econômicos.
O PNUMA também faz parte do projeto CN Net assim como de uma iniciativa mais ampla da ONU que está trabalhando em prol da neutralidade climática em todos os seus prédios, representações e em todas as atividades da organização. Conta com total apoio do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, que já colocou a mudança climática entre as suas prioridades. Durante 2008, certamente seremos testemunhas de uma ampla participação na CN Net por parte das comunidades, das ONGs, e das pessoas individualmente. Há outros sinais promissores, resultado atual do principal instrumento para a redução das emissões: o Protocolo de Kyoto, e a expectativa de obter reduções ainda maiores num futuro próximo.
• Cerca de 60 países têm objetivos na área das energias renováveis, entre eles, 13 países em desenvolvimento; enquanto que 80 adotaram mecanismos de mercado para promover o desenvolvimento da energia renovável.
• Mais de 20% dos novos investimentos em energias renováveis acontecem nos países em desenvolvimento, correspondendo a maior parte à China, à Índia e ao Brasil, com 9%, 5% e 4% respectivamente, em 2006.
• As energias renováveis fornecem atualmente mais de 5% da produção mundial e constituem o 18% dos novos investimentos na produção de eletricidade.
• O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto mobilizou, em 2006, investimentos em projetos de energia renovável e eficácia energética por um valor de quase 6 bilhões de dólares.
• O comércio de emissões, cuja evolução se deve principalmente ao programa de comércio da União Européia, contabilizou 362 milhões de toneladas de CO2 comercializadas em 2005 por um valor de cerca de 7 bilhões de Euros.
• O PNUMA, em conjunto com dois bancos da Índia, criou um mercado de crédito para pessoas físicas que forneceu energia solar a 100.000 pessoas no subcontinente. Atualmente a iniciativa se autofinancia e há o projeto de ser implantada em outras partes.
• A decisão adotada na última reunião da Convenção sobre Mudanças Climáticas celebrada em Bali de incluir a redução de emissões geradas por causa do desmatamento e pela degradação significa uma luz verde para que as florestas sejam levadas em consideração de forma mais ampla neste tipo de atividades. O Governo da Noruega anunciou que liberará 2.7 bilhões de dólares dentro dos próximos cinco anos como incentivo para essas atividades.
Também já foi dado o primeiro passo para se obter fundos para as “economias de adaptação às mudanças climáticas”. Atualmente existe una necessidade urgente de contar com importantes fundos adicionais para ajudar os países em desenvolvimento e as economias menos avançadas. Também se está estimulando uma grande criatividade.
Foi proposto um grande projeto solar para os Estados Unidos o qual, até 2050, poderia proporcionar aproximadamente 70% da demanda de eletricidade desse país e o 35% das suas necessidades energéticas. O superávit de eletricidade de origem solar se utilizaria para comprimir ar; este seria armazenado em aqüíferos, cavernas, etc. para ser utilizado posteriormente durante a noite para mover turbinas.
Somente nos EUA se desperdiça calor por valor de 40 bilhões de dólares. Uma empresa está fabricando mini-bombas que extraem o calor da água utilizada para lavar, com o qual se suplementa o fornecimento de água quente doméstica. Científicos da Islândia estão desenvolvendo um projeto para injetar dióxido de carbono nos estratos de rochas onde ele se converte em argila.
No Quênia, os pesquisadores estão isolando as enzimas que utilizam os cupins para converter os rejeitos de madeira em açúcares para sua utilização na produção de biocombustíveis inócuos para o meio ambiente.
Por tanto, o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2008 não é um fato isolado, ele faz parte de um esforço mundial para descarbonizar as sociedades; ele influi e potencializa todas as esferas da vida privada e pública. É também um marco no Mapa do Caminho de Bali até final de 2009, o qual está desenhado para orientar o mundo na direção de um resolvido regime de redução das emissões a partir de 2012.
No ano passado, o Dia Mundial do Meio Ambiente utilizou com muito sucesso o slogan: “O degelo: um tema candente?” para catalisar, em quase 100 países, as atividades populares de milhões de pessoas em torno ao desafio das mudanças climáticas. Neste especial dia das Nações Unidas, se faz necessário enviar claramente a mensagem de que o público mundial quer que a transformação que está acontecendo continue e se acelere; de que todos querem que se adotem medidas de caráter particular, empresarial e político para acabar com a dependência do CO2.
(Por Achim Steiner *, Eco21, 22/06/2008)
*Diretor-Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA