O fenômeno que provocou destruição e inúmeros prejuízos em boa parte do município de Correia Pinto, na Serra Catarinense, na tarde de sexta-feira (20/06), pode ter sido um tornado. A hipótese, cogitada por especialistas, é reforçada por evidências deixadas em alguns locais e, principalmente, pelos testemunhos dos moradores.
A chuva de granizo e os fortes ventos, estimados em 80 quilômetros por hora, iniciaram exatamente às 13h, e duraram menos de 10 minutos. Tempo suficiente para derrubar árvores, muros e galpões, arrebentar fios de alta tensão e telefonia dos postes, arrancar antenas parabólicas e destelhar casas e escolas.
Em toda a cidade, o fim de semana está sendo de reconstrução e limpeza. Os bairros mais atingidos foram o Planalto e o São Pedro, justamente os mais carentes. Neste segundo, o aposentado João Maria Lemos, 58 anos, a esposa, o filho, a nora e os quatro netos, com idade entre três e oito anos, passaram a fria madrugada com metade da casa descoberta e o medo de um novo temporal.
— Graças a Deus que não voltou a chover e a ventar, pois nossa casa poderia desabar com todos nós dentro — diz Lemos.
Os dois bairros estão no subúrbio da cidade, mas é no São Pedro, onde vivem aproximadamente 400 famílias, que estão os maiores indícios da ocorrência de um tornado. Algumas árvores parecem ter sido cortadas com machados e outras perderam todas as folhas. Uma plantação de milho teve as extremidades destruídas e o centro preservado, o que pode caracterizar o movimento circular do tornado. O próprio granizo é um indício do fenômeno.
Moradoras garantem ter visto tornado
Pelo menos duas moradoras do bairro São Pedro garantem ter visto uma espécie de funil se formando entre o céu e a terra, carregando tudo o que encontrava pela frente. A dona de casa Maria Fernanda Miranda, 25 anos, é uma delas. Ela estava em um carro, saindo do bairro em direção a Lages, distante 30 quilômetros de Correia Pinto, quando viu a formação do fenômeno. Maria avistou uma grande quantidade de madeiras e telhas voando. O motorista precisou parar o veículo, pois a chuva e o vento eram tão fortes que não havia como prosseguir, além do risco de ser atingido por algum objeto.
— Era uma enorme tromba d'água, e fiquei apavorada, pois nunca tinha visto isso antes — relata.
A dona de casa Maria Cecília da Luz, 43 anos, também diz ter visto o fenômeno. Ela cortava lenha nos fundos de sua residência quando o céu escureceu, o vento passou a soprar forte e o granizo caiu. Maria Cecília diz ter visto um funil se formando entre o céu e a terra cerca de um quilômetro à frente, praticamente no mesmo local onde Maria Fernanda estava.
— O que eu vi bem de perto foi muito parecido com aquilo que geralmente só se vê na televisão. Não gosto nem de lembrar, foi horrível e assustador — conta Maria Cecília, que começou a rezar após sentir a casa tremer e o teto da casa levantar.
(Por Pablo Gomes, Diário Catarinense, 21/06/2008)