A São Paulo Fashion Week abriu com o soporífero desfile de Isabela Capeto, seguiu com os looks indecisos de Jefferson Kulig e, no início da noite, exibiu uma coleção de entressafra do estilista mineiro Ronaldo Fraga.
Apesar disso, Capeto, Kulig e Fraga não devem ser equiparados --mesmo se os três são conhecidos pela personalidade forte e o gosto pelo artesanal.
A hierarquia fashion pede que se situe Fraga acima dos dois outros, pelo seu talento poético extraordinário.
A poesia do estilista mineiro não esteve ausente no desfile de ontem. O tema, porém, foi político e pedregoso: o desequilíbrio ecológico no rio São Francisco, que está levando à salinização das águas outrora doces do "Velho Chico".
Para reforçar o assunto, foram instaladas 250 bacias com quase 10 toneladas de sal grosso na sala de desfiles, como cenário. Nas roupas, surgiram referências à paisagem do rio, aos peixes e à vida ribeirinha.
A coleção tem bons momentos, como os vestidos preenchidos por belos bordados no estilo tapeçaria. Os looks em jeans, com estamparia de peixes e efeitos de escamas vazadas, também funcionaram.
Em relação à temporada passada, Ronaldo mudou um pouco a silhueta da coleção, que apareceu um pouco mais seca e menos balonê. As barras (finalmente) subiram: estão levemente acima dos joelhos.
Porém, algumas peças exageraram no efeito dramático, misturando estampas confusas, modelagens complexas e muitos elementos decorativos. O resultado pesou na imagem final do desfile, que certamente não foi um dos melhores da carreira de Fraga.
Outro ponto fraco foi a trilha sonora, com os "barulhos" do grupo de percussão corporal Barbatuques, a mais irritante de toda a temporada.
(Por Alcino Leite Neto e Vivian Whiteman, Folha online, 22/06/2008)