Lideranças indígenas do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, entregaram à Fundação Nacional de Saúde (Funasa) uma carta em que denunciam a morte de 12 indígenas, sendo dez crianças, em menos de um mês. Os óbitos, segundo o documento, ocorreram em plena ação emergencial da Funasa, entre 8 de maio e 11 de junho. "No Vale do Javari somos apenas 3.700 índios, e esse número tem se mantido no mesmo índice há muito tempo devido à alta taxa de mortalidade", informam os indígenas.
O diretor do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenka, confirmou à Folha ter recebido a denúncia. Lamentou as mortes e admitiu que o atendimento no Vale do Javari é precário. "O acesso é muito difícil. Nossa equipe de saúde levou 15 dias para chegar ao Alto Curuçá." Segundo Guenka, a Funasa também tem dificuldades para contratar médicos. "Em Atalaia do Norte temos só dois médicos. Nas aldeias é pior", afirmou. O dirigente ressaltou que foram tomadas medidas de controle e prevenção de hepatite B, tuberculose e malária.
A taxa de mortalidade infantil entre os índios está em 48 para cada 1.000, enquanto entre os brancos esse índice é de 21 em cada 1.000. "Nunca conseguiremos equiparar as taxas de mortalidade dos índios com a dos brancos. Além disso, o crescimento vegetativo indígena ainda é grande (5,5 filhos por família) e isso faz com que as crianças estejam mais expostas", avaliou.
Guenka comemorou a reunião da Comissão Nacional de Política Indigenista, na última quinta. Presente ao evento, o presidente Lula deu prazo de dois meses para que haja avanços na questão da saúde e na demarcação de terras. O presidente da Funasa, Danilo Forte, apresentou proposta de descentralização do atendimento à saúde do índio, a partir do fortalecimento dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, que terão mais autonomia. Mas a administração da saúde indígena seguirá nas mãos dos brancos. Cerca de 800 funcionários serão contratados para a gestão.
(Por Claudio Dantas Siqueira, Folha Online, 22/06/2008)