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2008-06-23

Vivia Paulino, de 6 anos, é uma das milhares de crianças vítimas da cólera em Angola. Ao vê-la brincar alegremente na areia com sua irmã gêmea custa crer que há apenas alguns meses esteve à beira da morte. O cólera se propaga através da água suja. E, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), quase 40% dos angolanos usam água procedente de fontes inseguras. As doenças originadas na água são uma causa-chave da diarréia, segundo motivo de morte entre menores de 5 anos neste país africano. Entre janeiro e início de março houve 7.740 casos de cólera registrados em Angola, além de 198 mortes. Isto representa mais de uma vítima por dia.

A pequena Vivia reside em Boa Esperança, um assentamento nos arredores de Luanda. O assentamento se expandiu no começo dos anos 90 para abrigar famílias que fugiam das lutas nas províncias. Hoje vivem ali dezenas de milhares de pessoas, que habitam casas feitas com blocos de cimento e metal, todas dependendo da água levada por caminhos do governo aos tanques comunitários. A mãe das gêmeas, Ingracia Domingos de 47 anos, faz cinco viagens ao tanque por dia, carregando baldes de 20 litros cada vez. Os transporta sobre a cabeça de regresso à sua pequena casa. Esta mãe solteira de sete filhos, que também cuida de quatro netos, encolhe os ombros e diz: “Os baldes são muito pesados, mas é isto que temos de fazer e estou acostumada”.

Cada balde custa 30 kwanzas, o que significa que Ingracia gasta cerca de US$ 2 por dia com água. Isto representa um sério problema para seu orçamento. A soma chega a US$ 730 no ano, mais do que algumas famílias pagam em países com a Grã-Bretanha. E a água que Ingracia recolhe não é limpa, já que os baldes sujos são submersos diretamente no tanque comunitário diariamente. Mas, a apenas 16 quilômetros, no centro de Luanda, as coisas são muito diferentes.

Isolados da realidade mais ampla em apartamentos luxuosos, os novos ricos de Angola (e os endinheirados trabalhadores imigrantes que chegaram ao país para participar do auge do petróleo e da construção da Angola do pós-guerra) desfrutam da água filtrada que é bombeada diretamente para seus lares. No ultimo dia 12, a empresa petrolífera estatal Sonangol abriu sua nova sede. Construída ao custo superior a US$ 196 milhões, é uma maravilha da engenharia moderna, com 22 andares, dois ginásios, um observatório, um restaurante e, naturalmente, abundante água corrente e limpa em cada um de seus banheiros de mármore.

É pouco provável que Vivia e sua irmã Edina alguma vez entrem nesse prédio e desfrutem de seu rico fornecimento de água. Nasceram do lado errado da agora extinta via férrea angolana. Mas, embora seja improvável que Boa Esperança obtenha água corrente em breve, o governo destina enormes somas a programas educacionais comunitários e produtos para tratamento da água. Após a doença de Vivia, sua família foi visitada por um agente sanitário treinado pelo Unicef que ensinou como purificar a água com um produto clorado. As garrafas usam tampas de cerveja como medidas – uma para cinco litros e duas para 20 litros – e depois se deixa a água repousar por 30 minutos e já está pronta para ser usada.

Agora, explicou Inês Damião, de 21 anos e a filha mais velha de Ingracia, toda a água da família é purificada antes do uso. “Não queremos nenhum risco depois que Vivia esteve tão doente. Inclusive, limpamos a água com a qual nos lavamos”, disse. Estes agentes sanitários trabalham desde o povoado de Cacuaco, que tem o principal centro de saúde da área e o hospital de cólera, onde Vivia recebeu seu tratamento. No exterior do hospital – pouco mais que uma série de barracas de campanha – um grupo destes agentes sanitários se reuniram para encher garrafas com a solução clorada, prontos para uma distribuição no bairro próximo de Kokolo.

O diretor de educação sanitária da municipalidade, Mantondo Cândi Matos, explicou que houve alguns casos de cólera em Kikolo, por isso a equipe quis ir até lá e assegurar que as pessoas estivessem tratando a água corretamente. Também disse que iria à maior quantidade de casas possível para treinar as famílias e garantir o uso da solução clorada. Este produto e os agentes que o distribuem são pagos pela autoridade local de saúde, evidência de que o dinheiro do petróleo de Angola finalmente está chegando a quem precisa.

Infelizmente, a mensagem sanitária em si mesmo nem sempre alcança quem deve ouvi-la. “Às vezes, as pessoas conseguem de nós garrafas com o liquido e depois o jogam fora para usar o recipiente para transportar petróleo para vender”, disse Matos. “E embora as pessoas não façam isto, às vezes são negligentes em limpar a água. Por isso temos de continuar dizendo a elas o quanto isto é importante”, acrescentou. A enfermeira Berta Florença, que trabalha com os pacientes enfermos de cólera em Cacuaco, acredita que a distribuição da solução para o tratamento da água está conseguindo uma diferença real.

“Vemos muito menos casos de cólera. Há dois anos havia muitas pessoas infectadas, mas agora, por exemplo, temos apenas dois aqui, recebendo tratamento. Parte disto se deve ao fato de estarmos na estação seca e haver menos água suja nas ruas, mas penso que mais pessoas estão limpando a água em suas casas e que isto está fazendo a diferença”, afirmou Florença. “As equipes sanitárias trabalham muito nesta área, e penso que isto tem um impacto. Creio que Angola finalmente está vencendo a guerra contra o cólera”, acrescentou. Certamente, enquanto o país entra em sua temporada seca, pode esperar uma redução nos casos de cólera, mas continuará até que as chuvas voltem, para ver se o cólera realmente pode ser abatido em Angola.

(Por Penny Streather, Envolverde, IPS, 19/06/2008)


 


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