O presidente Bush pode tentar, mas não conseguirá escapar da memória do Furacão Katrina. Bush visitou as áreas atingidas pelas enchentes nessa quinta-feira, a última visita de uma série que realizou durante sua presidência. Como sempre, ele ofereceu palavras e apoio e orações; ele chamou os moradores locais de "pessoas cabeça-dura" que irão "se recuperar". Como sempre ele encontrou o governador e prefeitos locais, olhou mapas, apareceu em um abrigo e prometeu ajuda federal. Como sempre ele levou consigo R. David Paulison, o administrador da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências, um homem tão conhecedor de comparações ao furacão Katrina que já não precisa ser questionado.
"Eu sinto muito que tenhamos que passar por isso novamente", disse o presidente diante de um Rio Iowa cheio, num adorável bairro classe média conhecido como Parkview Terrace perto da Universidade de Iowa, onde muitas casas ficaram sob as águas e só se chegava a elas de barco. "Digam às pessoas que a questão não é que não se esperava pelo jogo, mas sim que precisávamos saber como jogá-lo".
Cerca de 35,000 tiveram que deixar suas casas por causa das enchentes, 24 morreram, a maioria no Iowa, disse Paulison, que descreveu o desastre como o maior que sua agência enfrentou desde o furacão Katrina. Bush passou pelas regiões mais atingidas da cidade, juntamente com membros da delegação congressional de Iowa, o senador Tom Harkin e Dave Loebsack, um novato que não hesitou em elogiar o presidente. "Eu acho que ele sabe reconfortar as pessoas quando está diante delas", disse Loebsack.
Um político que Bush não viu durante sua passagem por Iowa foi o senador John McCain, indicado republicano à presidência que na quinta-feira conduziu sua própria visita à região devastada. O senador cancelou seus eventos durante a manhã, deixando a maior parte de sua equipe para trás enquanto inspecionava a cidade de Columbus, de 1,900 habitantes, onde os rios Iowa e Cedar se encontram. "Eu sei que falo por todos os americanos", disse McCain. "Nós faremos o possível para reconstruir suas vidas".
Bush geralmente se sai bem em situações como essa e é recebido com carinho. Beverly Jones e seu marido Doug, professor de ciência da computação na universidade local, estava diante de sua casa no bairro de Parkview Terrace e observou quando a equipe de Bush desceu a rua. Em sua janela um grande cartaz exibia um "O", que representa o candidato democrata Barack Obama. "Eu estou impressionada que ele esteja aqui", disse Beverly Jones a respeito de Bush.
Há algo em comum entre essas viagens, com a parada para as fotos e viagens de helicóptero sobre o local atingido, mas essa quinta-feira não foi tão emocional quanto outras viagens. Em Greensburg, uma pequena cidade destruída por um tornado em maio de 2007, Bush foi cercado por pessoas enquanto caminhava para reconfortar os que perderam suas casas. Na Califórnia, ele falou da "tristeza e preocupação" que viu nos olhos das pessoas, enquanto uma mulher cuja casa foi destruída nos incêndios chorava em seu ombro. Quando uma ponte caiu em Minneapolis em agosto passado, ele conheceu as famílias dos mortos no incidente.
Mas a questão do furacão Katrina permanece, com a imagem de um Bush descuidado e despreocupado observando a destruição de uma janela do avião presidencial. "Aquele foi o principal evento de sua presidência a parte do 11/9", disse John Feehery, estrategista republicano, "e ele não pôde escapar disso como não poderia escapar do 11/9". Mesmo assim, os conselheiros de Bush tentam. Paulison disse que foram necessárias cinco horas para que as pessoas conseguissem ligar para sua agência durante o furacão Katrina; o tempo de resposta agora, ele disse na quinta-feira, "é de 12 segundos e respondemos 99.7% das ligações".
A agência enviou 180,000 litros d'água e dois milhões de sacos de areia para o Missouri, um Estado que ainda não foi atingido pelas enchentes, como garantia. Loebsack está impressionado. "Até agora tudo bem", ele disse, abraçando seu pacote de souvenires do Força Aérea Um, que incluía chocolates M&M em uma caixa com o selo presidencial. Mas, amaciado pela hospitalidade do presidente, ele evitou se posicionar sobre essa visita de Bush reparar o dano causado pela que sucedeu o furacão Katrina. "Eu não quero falar sobre isso", ele disse...
(Por SHERYL GAY STOLBERG, NYT, Ultimo Segundo, 20/06/2008)