Em entrevista, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Petroquímica do Paraná (Sindiquímica-PR), Otemio Garcia de Lima, relata que a privatização do setor, ocorrida entre os anos de 1992 e 1993, gerou o monopólio no setor. Hoje, apenas as multinacionais Bunge, Yara e Cargill dominam a produção e a comercialização de fertilizantes no mundo.
O resultado disso, diz o sindicalista, é a precarização das condições de trabalho nas empresas da Petrobras que foram privatizadas e a dependência dos agricultores às multinacionais, que determinam os preços dos químicos e encarecem a produção. O sindicalista ainda mostra confiança na reestatização do setor, mas prevê que caso isso ocorra, deve demorar uns cinco anos.
Quais os problemas que a privatização do setor de fertilizantes trouxe aos trabalhadores urbanos e rurais?
Ao longo desses quinze anos, nós, trabalhadores, sentimos na pele, a redução de benefícios da categoria, algumas políticas de manutenção com ações preventivas foram deixadas de lado, o que tem aumentado bastante são os riscos de acidentes e explosões nas unidades. Ao longo desses quinze anos que a empresa se encontra sob o domínio da iniciativa privada, aconteceram nove mortes em todas as sete unidades que a empresa detem tudo isso nós denunciamos recentemente. Com relação aos agricultores o que a gente percebe é um aumento grande desse custo. Vou dar um exemplo da uréia que, até 1993, custava em torno de U$ 120 a tonelada, no ano de 2008, já passou de U$ 450 a tonelada. O que aconteceu, nesses quinze anos, é que não houve nenhum tipo de investimento para não aumentar a oferta de fertilizantes no país.
Por que essa privatização causou tantos prejuízos?
Porque o setor de fertilizantes é controlado por três grandes empresas hoje: a Mana, a Yara e a Cargill. Um estudo recente, do início do ano, aponta claramente a oligopolização do setor. Então, tudo aquilo que a gente defendia em 93, quando a gente lutou para não privatizar as empresas. Hoje, a gente está vendo na prática o que aconteceu, oligopolização do setor, alto preço para os agricultores, precarização dos trabalhadores e outro setor que tem ganho é a empresa que tem subido o seu lucro ano após ano. Então, nós temos uma idéia, de 2007 para 2008 o lucro da empresa cresceu em 93%. Alguém está fazendo essa conta, que somos nós, trabalhadores, os agricultores e a população de uma forma geral quando vai comprar comida. Determinados produtos agrícolas o preço dele, até 40% vem dos insumos e dos fertilizantes.
O que motiva os trabalhadores a lutar para que os governos voltem a assumir o setor de fertilizantes?
O principal é que um país com vocação agrícola como o nosso, não pode deixar um setor estratégico como os fertilizantes na mão da iniciativa privada. O Estado tem que ter o controle, gerir isso e os investimentos necessários para aumentar a oferta de fertilizantes. O país hoje, pra se ter uma idéia, ele importa 70% dos fertilizantes que é consumido no país, porque esses grupos [as multinacionais que dominam o setor] não têm interesse nenhum em aumentar a oferta. Esses grupos têm deixado todo mundo refém do preço que eles quiserem devido à falta de oferta no mercado nacional.
O que tem feito o Sindiquimica-PR para pressionar pela reestatização do setor?
Essa questão da precarização das condições de trabalho nas fábricas, aliada com a oligopolização e com a questão do preço do fertilizante, fez com que nós criássemos aqui, no Estado do Paraná, o Comitê em Defesa dos Pequenos Agricultores e dos Trabalhadores que realizou, no dia 12 de Maio, uma audiência pública pra trazer esse debate. Fizemos alguns atos, aqui, na porta da empresa, em Araucária (PR), o último coincidiu com o ato da Via Campesina na Jornada de Lutas do mês de Junho. Nós temos construído a seguinte agenda: nós queremos a reestatização da empresa, colocar os fertilizantes na porta da empresa como quando era estatal, queremos criar novas empresas, para não ficar tão dependente da indústria internacional e, principalmente, o que a gente tem discutido muito: mudar o modelo de agricultura no país, a gente tem que ver uma agricultura mais ligada com a agroecologia, menos dependente dos adubos químicos. Tudo isso vem ao encontro com a reforma agrária que é uma luta dos camponeses também. Se isso não for possível, nós queremos que, ao menos, o Estado volte a atuar e regulamentar esse setor, que crie novas fábricas de fertilizantes, que possa quebrar o monopólio
Como o governo tem encarado a proposta de reestatização?
O governo já está estudando uma possível reestatização. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, deu declarações, participou de um programa aqui no Paraná, onde coloca essa discussão, da necessidade de aumentar a oferta. Então, aqueles setores que estão na mão da iniciativa privada e que não estão dando resultado, o governo admite uma possível reestatização. Nós sabemos que, há duas semanas, o tema dos fertilizantes foi pauta, que o governo determinou que a Petrobrás acelere os estudos quanto a isso, pra poder, num período, o mais curto possível, principalmente a questão dos fertilizantes nitrogenados estar colocando no mercado. Essas plantas são demoradas, não define hoje e implementa manhã ou no próximo ano, pode demorar, dois, três, quatro anos para ficarem prontas, pra começar a operar e produzir os fertilizantes. Mas as colocações é que no prazo de cinco a dez anos a gente pare de ser tão dependente dos fertilizantes importados.
A quem o monopólio do setor pelas multinacionais afeta?
Nós temos certeza que tem muitos setores que são contra os oligopólios. Essa luta vai desde o pequeno agricultor, do agricultor que defende a agricultura orgânica, passando pelos pequenos agricultores que têm que ter o uso do fertilizante para ter um pouquinho a mais de competitividade e até o agronegócio está preocupado com a questão dos fertilizantes. Então, é uma luta que envolve toda uma cadeira e nós, os trabalhadores, que estamos ligados a esse setor, sentimos o peso de estar negociando, de estar sob o domínio de uma empresa multinacional, que só tem um único objetivo, que é ganhar dinheiro, ter lucro e não ter responsabilidade com o país.
(Por Paula Cassandra, Agência Chasque, 20/06/2008)