O Irã criticou neste sábado (21/06) o governo de Israel afirmando que o regime é "perigoso" e que ele perturba a segurança e a paz mundial. Além disso, informou também que rejeitará qualquer negociação com as grandes potências sobre seu programa nuclear baseado na suspensão do enriquecimento de urânio.
As afirmações sobre Israel foram feitas pelo porta-voz iraniano, Gholam Hossein Elham, um dia após reportagem publicada pelo jornal americano "New York Times" informar que o governo israelense realizou um exercício militar que parecia ser um ensaio para um possível ataque contra as instalações nucleares iranianas.
"As palavras do regime sionista não fazem nada a não ser corroborar a tese da república islâmica sobre o perigo desse regime como elemento que perturba a segurança mundial e a paz tanto em nível regional como internacional, e que sua existência é sinônimo de sabotagens, bloqueios e terror", afirmou Elham, segundo a agência de notícias Irna.
"Não obstante, sobre o fato de que esse regime tenha a capacidade de agredir o Irã, teria de dizer que a ousadia de atacar nossos interesses e a integridade do nosso país é uma ação absurda", acrescentou.
Citando autoridades americanas não identificadas, o "NYT" disse ontem que mais de cem aviões israelenses F-16 e F-15 participaram das manobras no leste do Mediterrâneo e na Grécia na primeira semana de junho.
O jornal disse também que o exercício pareceu ser um esforço para focar em ataques de longa distância e que ilustra a seriedade com que Israel vê o programa nuclear iraniano. O jornal disse que autoridades israelenses não discutiriam o exercício.
Um porta-voz militar israelense disse só que a Força Aérea do país "treina regularmente para várias missões para confrontar e encontrar os desafios colocados pelas ameaças à Israel", de acordo com o "NYT".
Uma autoridade do Pentágono, que o jornal afirma ter recebido informações sobre o exercício, disse que um dos objetivos era praticar táticas de vôo, reabastecimento aéreo e outros detalhes de um possível ataque às instalações nucleares do Irã e a mísseis convencionais de longo alcance.
A fonte, que falou sob a condição de anonimato, disse que o segundo objetivo era enviar uma clara mensagem de que Israel está preparado para agir militarmente se outros esforços para impedir que o Irã produza bombas fracassem.
Várias autoridades norte-americanas disseram ao jornal não acreditar que Israel tenha decidido atacar o Irã ou que um ataque deste tipo seja iminente.
Os comentários feitos pelo porta-voz do governo iraniano aconteceram também um dia após Mohamad El Baradei, diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica da ONU), dizer que renuncia se houver um ataque militar ao Irã, alertando que tal medida iria transformar a região em uma "bola de fogo".
Urânio
Também neste sábado, o governo iraniano reiterou que não vai suspender seu programa de enriquecimento de urânio e chamou de "irracional e inaceitável" qualquer pedido para que isso seja feito, informou a agência de notícias Fars.
O porta-voz Gholam Hossein Elham afirmou em entrevista coletiva que "a resposta da República Islâmica do Irã ao pacote proposto recentemente pelos seis poderes mundiais (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) não se baseará na suspensão do enriquecimento".
Elham também afirmou que "qualquer pedido para o cancelamento do enriquecimento de urânio é irracional e inaceitável". "A manutenção das negociações não se baseará em tal suspensão", disse o porta-voz.
No último sábado (14), o alto representante para a Política Externa e de Segurança Comum da UE (União Européia), Javier Solana, viajou para Teerã para apresentar uma série de incentivos propostos ao Irã pelos cinco países do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) mais Alemanha para que suspenda seu programa de enriquecimento de urânio.
Neste sentido, Elham afirmou que seu país está considerando os incentivos e que responderá à oferta no tempo devido. "O Irã continuará sua cooperação com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e está preparado para manter conversas com os países sobre assuntos de interesse mútuo e para progressos internacionais", afirmou, ressaltando que "as atividades nucleares do país são completamente transparentes".
Já o representante iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, afirmou à TV iraniana que "a República Islâmica do Irã manterá sem interrupção o enriquecimento de urânio, já que está as 24 horas por dia sob vigilância das câmeras" desse organismo.
Na quinta-feira (19), o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que "o novo jogo" do Ocidente com o Irã no tema nuclear "não terá outro fim para eles que não seja sua humilhação".
(UOL Notícias, com informações da Reuters, Associated Press, Efe, 21/06/2008)